O são-joanense. Você o conhece? Então me diz:
- Quem é este ser, esta entidade, a quem se refere, quando genericamente se diz "o são-joanense"? Eis aí uma questão complexa...
Longe de ser apenas um adjetivo gentílico, esta não é uma condição nata dos que vieram à luz sob o céu de São João del-Rei. Nem tampouco é um título que se concede aos cidadãos que escolheram o vale da Serra do Lenheiro para aqui viver. "O são-joanense" em questão é muito mais do que isto. Engana-se também quem pensa que é um estado de espírito...
São-joanense é aquele que herdou do tempo uma bagagem imensurável e intangível de mistério e sentimento e a materializa, corporalmente, no seu modo de ser, de pensar e de agir. De compreender este mundo e ainda em vida transitar pelo outro, quase todo dia. O são-joanense "legítimo" segue o relógio do sol, mede pelas estações do ano o seu tempo, que é a eternidade.
Ele tem códigos próprios de comunicação e conduta, valores peculiares, linguagem inconfidente, coragem insuspeitável, medos intransponíveis e segredos à flor da pele. O verdadeiro são-joanense é a reencarnação de seus ancestrais, que mais pelo inconsciente do que pela razão ele permanentemente os revisita, os vivifica, os alimenta e os eterniza. Na comida de sabores, cores, temperos e sabores seculares, nos provérbios e ditados populares, no gosto estético vibrante e refinado, na sofisticação do que for extremamente simples, porém cerimonioso e ao mesmo tempo despojado.
No pensamento tão cauteloso que por si só é atrevido e arriscado, na ilusória modéstia e humildade e sobretudo no balaio da contradição, que mistura festa, gozo, pesar, fartura, moderação, delírio, contentamento, tristeza, ousadia, risco, covardia, desejo de morte, medo da morte, desafio à morte.
Os velhos são-joanenses, aos poucos, vão se indo - uma pena! - e, também uma pena, não conseguiram transmitir completamente à toda sua geração sucessora, a chama que mantém acesa, viva e quente, em toda sua plenitude, a essência do que e ser são-joanense. Não é de hoje que é árdua a luta da peculiarização contra a padronização, cada vez mais imposta pelo modelo globalizante.
Mas felizmente a força ontológica e cultural de nossa terra resiste. O lume genuinamente são-joanense, como a cigarra que sai da terra para saudar a primavera, brota como uma faísca no peito de muitos jovens, dando-lhes a tocha de fogo que eles empunharão pelo tempo afora de suas vidas e a entregarão às gerações vindouras, que repetirão esta missão e este gesto, pelos séculos amém!
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Texto e foto: Antonio Emilio da Costa
Uma beleza de texto que inspira a viajar até SJDR
ResponderExcluirQue bom que você gostou do post, Escriva, e também ficamos felizes por saber que este Almanaque Digital, está cumprindo este, que um de seus principais objetivos: divulgar a cultura e o patrimônio de SJDR, despertando interesse e democratizando informações sobre os capítulos da história do Brasil escritas em nossa cidade. Quando puder, venha a São João del-Rei!
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