Talvez no auge da euforia e do batuque das horas finais do Carnaval de Terça Feira Gorda em São João del-Rei, pouca gente tenha se dado conta que, às nove horas da noite de ontem, o sino do Santíssimo Sacramento da Matriz do Pilar lançava sobre todas as coisas um sinal sonoro diferente: o dobre de Cinzas. Compassado e vigoroso, o dobre é duplo e dura cerca de dez minutos, avisando que em breve já será Quarta Feira de Cinzas e que, na Quaresma, o tempo vira em São João del-Rei. E vira mesmo, desde o primeiro amanhecer.
Por volta das seis da manhã, nos becos, esquinas e ruelas, foliões que voltam do Carnaval se encontram com fiéis que seguem para alguma igreja, em busca das primeiras cinzas que em cruz lhe marcarão a testa. Por várias vezes durante o dia o sino tocará pungente, marcando outras eras e outras horas. Na sacristia dos Passos, Matriz do Pilar, ainda pela manhã, é com contrição que preparam a grande cruz quaresmal e tiram do armário o crucificado misericordioso que, à noite percorrerá a igreja em via sacra, após a missa da Boa Morte.
Dezenove horas. Missa de Cinzas. Igreja lotada. Orquestra Lira Sanjoanense (1776) executando alguns responsórios do Ofício de Trevas, compostos no século XIX pelo são-joanense Padre José Maria Xavier. Ao final, o padre, ao marcar com cinzas a testa de uma multidão de fiéis, a cada um em voz alta lhes recomenda: "convertei-vos ao Evangelho de Cristo". Os sinos tocam, pontuando a barroca via sacra. Assim se vai a primeira noite de cada Quaresma em São João del-Rei.
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Adoro viajar nestas suas páginas! Semana Santa estarei em São João Del Rey e é ótimo ir acompanhando os eventos religiosos e sociais por aqui! Parabéns!
ResponderExcluirValeu, Paullo, obrigado. Você é sempre bem-vindo, na cidade e neste almanaque eletrônico. Grande abraço!
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