Recordar é viver, ensina Mestre Quati, já no grande e alto estandarte vermelho que anuncia a passagem de seu bloco no carnaval de Segunda Feira Gorda, em São João del-Rei. Recordar é viver, ensina o cidadão são-joanense Benedito Reis de Almeida, ícone do carnaval da terra onde os sinos falam, sempre que se lembra dos tempos em que a festa de Momo em São João del-Rei era considerada o melhor carnaval do interior do país.
Quase octogenário, Benedito Reis de Almeida, ou Mestre Quati, não vive só de lembranças. Pelo contrário, utiliza a experiência vivencial de suas muitas décadas para continuar criando e recriando. Foi assim que há alguns anos resgatou de sua lembrança os antigos Zé-Pereira's e deu vida aos cabeções: grandes, alegres e coloridos bonecos que hoje dão vida, leveza e alegria ao Carnaval de rua de São João del-Rei. Assim nasceu o bloco Recordar é Viver.
Os bonecos de Mestre Quati fazem lembrar o Homem da Meia Noite e a Mulher do Meio Dia - bonecões típicos do carnaval de Olinda. Entretando, são tão leves que parecem levitar na altura dos telhados dos casarões coloniais de São João del-Rei; têm sorriso tão ingênuo que parecem anjos caipiras, vestidos de chitão para brincar de roda em uma festa no céu. O universo que Mestre Quati criou e dá vida nos desfiles carnavalescos de São João del-Rei é assim, cheio de candura, ingenuidade e inocência. Como, imagina-se, desejasse Deus fosse o mundo real.
O segredo da criação dos bonecões, o menino Benedito Reis aprendeu com Oswaldo Tintureiro, numa época em que Carnaval era uma festa que acontecia em meio a marchinhas, batalhas de confete e serpentina, jatos de lança-perfume e pessoas fantasiadas à caráter. De lá pra cá, foi pedreiro, sineiro, músico, pintor de paredes e jogador de futebol - tão ágil no campo que daí então lhe deram o apelido mais conhecido do que o próprio nome: Quati.
Se a filosofia popular ensina que "recordar é viver", Mestre Quati, sabe mais e, com seu bloco carnavalesco ensina: Recordar - e criar! - é, de fato, viver...
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Ilustração: Mestre Quati, foto de João Ramalho, reproduzida do site www.atitudecultural.com.br. Nossos agradecimentos ao fotógrafo e à ONG Atitude Cultural pela generosidade da colaboração.
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