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Batismo de sangue e fogo trouxe o Inferno à Vila de São João del-Rei. Era novembro de 1709...


Além da matança brutal que consumiu muitas vidas no Capão da Traição, uma das cicatrizes que a Guerra dos Emboabas deixou no Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes, depois Vila de São João del-Rei, foi o incêndio de todas as casas do povoado, inclusive da primitiva capela de Nossa Senhora do Pilar. Por ordem dos portugueses, o fogo foi ateado no dia 18 de novembro de 1709, consumindo todas as edificações, em sua maioria cobertas de palha.

Durante muitos anos a lembrança das chamas ardentes aterrorizou a população são-joanense e preocupou o governo da Provìncia. Tanto que, oito anos depois, exatamente no dia 26 de novembro de 1717, o Governador Dom Pedro de Almeida enviou correspondência ao Senado da Câmara da Vila de São João del-Rei, ainda para tratar daquele sangrento assundo. Na carta, proibia que, a partir de então, fosse construída naquela Vila qualquer edificação coberta de palha. Cumprindo a ordem, há 294 anos, a Câmara fez publicar um Edital, onde se lia.

          "... Declaramos que só concederemos licença para se fabricarem novas casas nas iminências e paragens da parte onde está a igreja, e nas colinas circunvizinhas com declaração de que hão ser cobertas de telhas."

A igreja citada é a Matriz do Pilar, na sua localização atual. As colinas circunvizinhas são a região da igreja das Mercês, Largo da Cruz, Largo do Carmo, Beco do Cotovelo, Beco do Salto, Ruas Santa Teresa e Santo Elias, Muxinga, Rua do Ouro, Rua das Flores, Rua da Laje, Rua Santo Antônio e arredores. Alí se constituiu, de fato, o primeiro núcleo verdadeiramente urbano da Vila de São João del-Rei, certamente com traçado muito semelhante ao que hoje conhecemos.

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