São João del-Rei não se esquece de suas tradições religiosas, e as mantém com muita vitalidade, sobretudo aquelas que nasceram nos séculos XVIII e XIX. O caráter "cultural e erudito" faz com que pareçam superiores às outras, mais populares, surgidas a partir do século XX. Assim, as músicas sacras setecentistas e oitocentistas, em latim, sobreviveram e são mais conhecidas do que suas irmãs mais novas, criadas a partir de 1900 e cantadas em português.
Constatado isso, tem-se a exata importãncia da obra "Lembrai-vos das Procissões e Devoções de Minas", lançado recentemente pelas cantoras mineiras Celia e Celma. Em uma produção primorosa, as gêmeas realizaram uma pesquisa sobre o cancioneiro religioso católico de todo o estado de Minas Gerais e garimparam pérolas preciosas, como Ó Maria concebida sem pecado, Glória a Jesus, Coração Santo e muitas outras.
Especialmente duas são muito íntimas dos são-joanenses maduros: Perdão meu Jesus - muitas vezes cantada pelo bispo (D. Delfim fazia questão de puxar o coro) na escadaria das Mercês na Sexta-Feira da Paixão, ao fim do Descendimento da Cruz, pouco antes da saída da Procissão do Enterro do Senhor - e Tantum Ergo, hino próprio para bênçãos e adorações ao Santíssimo Sacramento.
A simplicidade, devoção e emoção com que elas cantam, propositalmente e com humildade despojadas de qualquer intenção artística, conferem às músicas a sua autenticidade original, tornando-as ainda mais preciosas. Mostram que Deus e os homens podem estar fraternalmente irmanados, de mãos dadas, nem Criador, nem criatura. Celia e Celma são um presente do Céu. Quem sabe, em breve, elas não se apresentem em São João del-Rei?
Para conhecer o trabalho das duas gêmeas, basta acessar http://www.celiaecelma.com.br/. Lá você encontra até, cantadas, receitas de diversos pratos típicos mineiros, como canjiquinha com costelinha de porco, broa de fubá com queijo, vaca atolada e o curioso doce "mineiro de botas", entre outras delícias das terras alterosas.
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