Como riqueza enterrada no quintal, segredo cúmplice irrevelável ou dinheiro guardado no colchão que dorme em quarto escuro - trancado a sete chaves -, ainda hoje em São João del-Rei uma emoção abissal costuma brotar furtiva, interiormente, como mina d'água, e faz correr um sentimento nostálgico das veias aos corações são-joanenses, pulsem eles aqui ou em outros lugares.
Desejo do antes de tudo, lembrança do que poderia ter sido, saudade do que ainda vai ser, urgência do sempre-eterno. Tal emoção, fruto de uma história de fatos e sentimentos transmitidos trezentos anos de geração a geração, lateja secreta nos veios de ouro e na epiderme da Serra do Lenheiro.
Às vezes vaza em linhas, traços, símbolos e sinais, como no desenho acima e no poema abaixo.
Retrato de São João del-Rei
Aqui
em cada ponte
em cada esquina
em cada casa
tem uma cruz
para espantar o demônio.
Em cada cabeça
tem um sonho
em cada peito
tem um peso
e no coração
um sopro -
vontade danada
de ter vivido
e morrido
no tempo do ouro.
...........................................................................
Ilustração: Sagrado Coração de São João del-Rei - desenho de Toado de Castro / fevereiro de 1980 (acervo do autor).
Poema do autor (1979)
Comentários
Postar um comentário