Passinho do Largo do Rosário de São João del-Rei (12/2011). Foto do autor |
O poema abaixo, do ainda inédito libreto Vi(d)a Dolorosa - A Paixão segundo São João del-Rei, ambiciona descrever poeticamente os Passinhos da Paixão de Cristo de São João del-Rei, desvelando sua ambiência religiosa, psicológica e de memória.
Sétima Estação
Vistos de fora, os passinhos são oratórios de pedra,
com grossas portas vermelhas de madeira almofadada,
que se abrem para si mesmos ou para lugar nenhum – tanto faz.
Uma vez abertos, são nichos dourados, de delicado entalhe,
encarnação perfeita, com volutas, velas, flores, rendas e bordados.
Tudo tão simples e tão exato como deve ser por dentro
a veia aorta do coração de Jesus.
Neste vácuo bissecular de realidade e geografia,
que afunda uma âncora de interrogação no oceano da onisciência,
mistério maior é a imagem barroca que o povoa.
Uma vez maior do que o natural, quatro vezes menor
do que o mais humilde pensamento, em todos os passinhos
a representação de um martirizado, com túnica roxa, coroa de espinhos
e cruz às costas, traspassa as almas sensíveis com espadas de solidão.
Solidão do tempo. Solidão do mundo. Solidão das almas.
A ausência de si mesmo é labirinto tenebroso,
sem novelo ou lume que ajude a encontrar a aurora.
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