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Paulo Mendes Campos morou em São João del-Rei


Às vezes, no entusiasmo do sentimento nativista e valendo-se da força das palavras, alguns são-joanenses chegam a dizer que "São João del-Rei é um dos berços da arte". Esta declaração de amor pela cidade não é de todo desmedida: desde a criação da Vila de São João del-Rei até nossos dias, muitas pessoas que aqui nasceram ou viveram nesta cidade deram importante contribuição para o desenvolvimento cultural do país, destacando-se no campo das artes plásticas, da pintura, da literatura, do cinema e até, mais recentemente, da arte midiática.

Entre os vários escritores que viveram em São João del-Rei, Tencões & terentenas destaca aqui o nome de Paulo Mendes Campos.  Nascido em Belo Horizonte a 28 de fevereiro de 1922, começou seus estudos na capital mineira, prosseguiu em Cachoeira do Campo (onde o padre professor de Português lhe vaticinou: "Você ainda será escritor") e terminou em São João del Rei.

 Muito moço ainda, ingressou na vida literária, juntando-se à trupe formada pelo são-joanense Otto Lara Resende, com Fernando Sabino, Hélio Pellegrino, João Ettiene Filho e Murilo Rubião. Foi para o Rio de Janeiro em 1945, para conhecer o poeta Pablo Neruda, e por lá ficou a viver o dia a dia.

Na sua autobiografia, referindo-se a São João del-Rei, escreveu:

1938 - Os japoneses tomam Cantão; no Hotel Espanhol, São João del-Rei, os bacharelandos do Ginásio de Santo Antônio tomam vinho Gatão e recitam um ditirambo de Medeiros de Albuquerque (estava no florilégio do compêndio): "Bebe! e se ao cabo da noite escura, / Hora de crimes torpes, medonhos, / Varrer-te acaso da mente os sonhos, / Cerra os ouvidos à voz do povo! / Ergue teu cálice, bebe de novo!" Foi o que fizemos.

No poema Testamento do Brasil, parcialmente transcrito abaixo, também se refere a nossa cidade:


TESTAMENTO DO BRASIL 

Que já se faça a partilha.  
Só de quem nada possui  
nada de nada terei.  
Que seja aberto na praia,  
não na sala do notário,  
o testamento de todos.  
Quero de Belo Horizonte  
esse píncaro mais áspero,  
onde fiquei sem consolo,  
mas onde floriu por milagre  
no recôncavo da brenha  
a campânula azulada.  
De São João del-Rei só quero  
as palmeiras esculpidas  
na matriz de São Francisco.  
Da Zona da Mata quero  
o Ford envolto em poeira  
por esse Brasil precário  
dos anos vinte (ou twenties),  
quando o trompete de jazz
ruborizava a aurora  
cor de cinza de Chicago. 
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Fonte e foto: http://palavrarte.sites.uol.com.br/Poeta_Lembrei/poelembrei_poesias2.htm

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