A contemporaneidade e o espírito de vanguarda de São João del-Rei não são recentes e surpreendem quem espera encontrar aqui uma paisagem arquitetonicamente homogênea, que espelha apenas o ciclo do ouro. Tendo sempre evoluído a partir de uma visão dinâmica da realidade, São João preserva seu centro histórico como uma joia formada por diferentes pedras preciosas, cada uma de uma época.
Isto se reflete, e é muito visível, na arquitetura e no urbanismo são-joanenses. Em São João del-Rei, por exemplo, é possível encontrar, lado a lado com construções dos tempos coloniais e imperiais, edificações que retratam as transformações urbanas, sociais, econômicas, culturais, políticas, industriais e outras que modificaram o país ao longo dos últimos trezentos anos.
É natural que em uma cidade com desejo desenvolvimentista (São João del-Rei não se estagnou com o declínio da mineração e criou alternativas para superar esta dificuldade) muitas construções dos séculos XVIII e XIX dessem lugar a outras, de novos estilos, para atender novos conceitos, novas demandas e novas necessidades. Esta realidade persistiu por muito tempo, e é inegável que trouxe até alguns prejuízos, mas não é proposta discutí-los aqui nem apontar responsabilidades.
O certo é que, hoje, com maior, mais intensa, firme e efetiva atuação do poder público; com louvável e crescente participação da iniciativa privada (ainda pode ser mais expressiva!) e com a informação, conscientização e comprometimento da coletividade local, novas demolições e descaracterizações tendem a ser coisa do passado.
Por tudo isso, caminhar pelas ruas, becos, largos e praças de São João del-Rei não é voltar no tempo. É mais: é passear pelo tempo, percorrendo diversas paisagens que foram cenários de vários capítulos da história brasileira. Do século XVIII ao século XXI, da Inconfidência Mineira à Nova República, passando pelo Império, pela República Velha e pela participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, entre outros.
Passeio agradável, a se fazer a pé, atravessando pontes de pedra, sentindo o cheiro de manacás, damas da noite e jasmins, ouvindo o som de foguetes, apitos do trem e das fábricas, o toque de sinos e a música de violinos. Mas neste ritmo, há de se encontrar pausas para, num botequim simples, no balcão ou em mesas despojadas, saborear bolinhos de feijão, empadas, chouriço com angu, mozarelas de bolinha, dobradinha, canja de galinha, ou somente, lembrando da pura água benta, degustar uma cachaça branquinha...
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