Se "palavra de rei não volta atrás", de palavra de músico não se duvida. Escrita em pautas, é pura música, que se solfeja, toca e canta! Sendo assim, inegavelmente, Presciliano Silva é um dos mais importantes compositores barrocos de nossa região. E quem diz isso? Quem mais conhece desse assunto: os músicos mais velhos das setecentistas orquestras Lira Sanjoanense e Ribeiro Bastos e da Sociedade de Concertos Sinfônicos de São João del-Rei.
Mesmo quem não conhece seu nome, conhece algumas peças de sua obra, como a emocionante Ó Vos Omnes - uma das mais belas composições inspiradas nesta lamentação relativa ao sofrimento da mãe dolorosa, executada em diversos momentos da Festa de Passos e no rito da Comunhão, na tarde da Sexta-Feira da Paixão, na Matriz do Pilar.
Presciliano nasceu em São João del-Rei em 1854, onde sua carreira musical foi muito fértil, não só com obras de finalidade religiosa, mas também com composições para piano, atualmente desconhecidas, mas que foram editadas no início do século XX no Rio de Janeiro, pela Casa Editorial Henri Prealli.
Naquela época, São João del-Rei já se despedia do brilho esplendoroso do ciclo do ouro, mas já havia se consolidado como um polo de desenvolvimento regional, inclusive na produção musical. A vida cultural da cidade era pujante, com grandes compositores, companhias de música, a Casa da Ópera (1783), O Theatro São Joanense (1839), a Filarmônica São Joanense (1878), o Teatro 15 de Novembro (1910) e o Teatro Municipal (1893).
Sua carreira de compositor começou muito cedo, como discípulo de Martiniano Ribeiro Bastos. Contam que, quando o Imperador Pedro II esteve em nosssa cidade em 1881, para inaugurar a Estrada de Ferro Oeste de Minas, Presciliano tentou entregar-lhe uma partitura com o Hino do Imperador, de sua autoria, mas foi impedido. Porém a Princesa Izabel, que assistira a cena de uma janela, ordenou que lhe chamassem e pediu que nosso músico executasse sua composição, após o que convidou-o para estudar na capital da Corte, o Rio de Janeiro. Verdade ou lenda, só os documentos, quando forem encontrados e pesquisados, poderão dizer...
Apesar de sua raça negra - que ainda hoje é vítima de criminoso racismo e de desumana discriminação -, seu brilhantismo superou essas barreiras e abriu portas para que, com uma bolsa concedida pelo Imperador Pedro II, Presciliano deixasse o Brasil em 1879 rumo a Milão, onde, no Real Conservatório Escola de Música, aprimorou suas habilidades como compositor. Carlos Gomes também esteve lá na mesma época, mas não se tem notícia de que eles tenham se encontrado naquela cidade italiana. Em Milão, Presciliano compôs uma Solene Encomendação para a Ordem Terceira do Carmo e a Missa para Pequena Orquestra, Opus 17, às vezes parcialmente executada em nossa cidade.
Voltando da Itália, Presciliano morou em Campinas, onde casou-se com uma descendente de alemães, Emília Sauerbron, e residiu em outras cidades fluminenses e paulistas, sempre atuando como professor de música, compositor e fundador de várias corporações musicais.
Ainda não se sabe quando nem onde Presciliano Silva faleceu, havendo uma especulação, não confirmada por documentos, de que ele morreu em sua terra natal, São João del-Rei.
Mas se isso é verdade ou mentira, não importa. O que importa mesmo é que Presciliano José da Silva continua muito vivo em São João del-Rei, onde suas músicas são executadas com grande esmero, com grande respeito e com muito orgulho pelos músicos das nossas orquestras setecentistas. Afinal, eles sabem que estão seguindo partituras que rgistram a obra genial de um dos mais importantes, sensíveis e notáveis compositores de nossa região, nascido no século XIX e para sempre consagrado no tricentenário panteão da música de São João del-Rei.
Palmas para o grande compositor! Bravo Presciliano Silva!
Texto: Antonio Emilio da Costa
Foto: reprodução da internet
Texto fenomenal, e apesar de compreender o objetivo escrito no fragmento, soou bastante deselegante e preconceituoso. Sugiro correcao: "Apesar de sua raça negra, seu brilhantismo abriu portas..."
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