A riqueza arquitetônica de São João del-Rei é muito maior do que muita gente imagina. Ela é dinâmica, evolutiva e por isso documenta, com os diferentes tipos de fachadas e elementos visuais, a evolução econômica, social e cultural pela qual passou a cidade nos últimos três séculos.Isto, sem dúvida, a difere de outras cidades históricas cuja arquitetura, se por um lado é mais harmônica e uniforme, por outro é mais limitada do que abrangente, porque registra um único período histórico-econômico.
A visão ampla e a compreensão da realidade como um processo dinâmico mostram como é equivocado julgar uma cidade histórica mais valiosa e importante do que outra simplesmente porque esta retrata apenas um momento estático e aquela outra corajosamente arrisca apresentar esteticamente toda a dinâmica de sua história. Simplificando, é como se uma fosse um livro de um único capítulo, com ilustrações semelhantes, falando de um único fato, e a outra uma obra em que o herói, em sua epopeia, vivesse por muitos séculos, acompanhando as transformações do mundo.
É verdade: em grande parte a paisagem urbana são-soanense foi se transformando naturalmente. Espontaneamente vários estilos arquitetônicos foram se acrescentando uns aos outros, se sucedendo à medida que o núcleo urbano ia se expandindo e abrigando novas funções. O século XIX espremeu o século XVIII, roubou-lhe um pouco sua face esplendorosa, assim como fez com o século XIX a urbanização, a industrialização, a estrada de ferro e tudo o que aconteceu no começo do século XX. O adensamento populacional, os novos padrões de moradia, conceitos de higiene e saúde pública, a maior demanda por infra-estrutura urbana e serviços básicos, o transporte público, o aumento do número de automóveis, e tudo o mais deixaram marcas, tão acentuadas quanto foram acontecendo e se impondo.
É certo: desde sua origem, São João del-Rei não ficou parada no tempo e isto, sem dúvida, interferiu muito na diversidade de sua paisagem. Do mesmo modo, as pessoas de visão, que conseguem ver esta dinãmica, não lamentam essa face espontânea que a própria cidade, no seu existir, construiu. Nem a desqualificam, diminuem nem menosprezam por este modelo espontâneo de desenvolvimento, que precedeu à consciência da riqueza que o patrimônio do tempo passado representa.
Hoje, menosprezar, subdimensionar ou desqualificar São João del-Rei por sua paisagem arquitetonicamente diversa não só é sinal de desinformação, quanto também é um ato de má fé e até de crueldade, pois reforça os argumentos de quem utiliza esta justificativa para destruir a paisagem histórica e seu entorno desta velha cidade.
Quem sabe o valor que têm os vários estilos que sucederam o colonial e o barroco certamente percebem o quanto São João del-Rei é múltipla e plural. SabeSão quanto, em grande parte, a diversidade estilística em geral é harmônica e dialoga bem em certas áreas do centro histórico e que as notas gritantes e os acordes dissonantes surgiram principalmente nas últimas cinco décadas, cada vez mais nos últimos anos, amparados no discurso de que, se quase tudo já se perdeu, por que então preservar o que ainda resta?
Comentários
Postar um comentário