Hoje as coisas estão muito diferentes, mas antigamente o diabo estava presente dia e noite em todas as coisas de São João del-Rei. Afinal, quanto maior for a religiosidade de um povo, mais canais e ambientes existem para as pessoas estabelecerem relacionamentos com o mundo sobrenatural. E sendo São João del-Rei uma cidade tão religiosa, imagine ...
Principalmente pelos são-joanenses mais simples, mais humildes, mais crédulos e menos letrados, a presença do anjo das trevas era muito temida. Chegava às vezes a ser pressentida e evitada, mas as vezes, em situações diversas, seu nome era exclamado e, mais raramente, até invocado. Quem nunca ouviu: - isso é coisa do diabo! ou, - mas que diabo, sô!, ou, ainda, - vai pro diabo que o carregue!?
Se fora de hora o galo fazia barulho estranho no galinheiro, tinha-o visto passar por perto. Se algum objeto ou documento misteriosamente sumia dentro de casa, era ele que tinha escondido. Se alguém se via diante de um desejo incontrolável de fazer algo impróprio ou condenável, era ele testando a fidelidade daquela alma ao Criador.
Aliás, até de falar seu nome tinham medo, pois se ele ouvisse poderia entender como um chamado e, então aparecer, de chifre e rabo, cheirando a enxofre, naquele local. Daí, quando queriam, ou precisavam, se referir a ele, falavam coisa-ruim, tentação, espírito mal, espírito ruim, senhor das trevas, capiroto e encardido. Este último condinome tinha o sentido de impuro, sujo, manchado, maculado ou seja, era o oposto absoluto à Imaculada Conceição, na sua divina pureza. O máximo que os antigos arriscavam dizer era capeta, nome que na escala perigosa e nefasta, era o degrau mais alto da escada decrescente que descia para diabo, demônio e, já nas profundezas do inferno, satanás e lucifer.
E com isso, histórias e estórias brotavam de toda parte, principalmente no período da Quaresma, quando acreditavam, em São João del-Rei, que o "homem" estava solto. Como o caso de uma mulher que, no fim dos anos 50 e arredores da Bica da Prata / Rua Padre Faustino, desejosa de espantar os vizinhos negros de uma casa em frente à que ela morava, às 3 da tarde de toda sexta-feira, escondida atrás do muro, secretamente jogava pedras no telhado da casa dos desafetos. Burburinho formado, gente assustada, criança de olhos arregalados, ela saía de casa e vinha tranquila e plácida, dizendo ser aquilo coisa do diabo. Essa "marafunda" durou meses, com muita reza brava na rua e vizinhos ali queimando incenso em lata de sardinha , até que um dia alguém à espreita flagrou o ato diabólico.
Denunciada publicamente em flagrante, a culpada culpou o diabo, mas a mulher testemunha ironicamente retrucou: uai, não sabia que você era o diabo, pois foi você quem vi jogando as pedras! Desconcertada, furiosa e desapontada, a vizinha endiabrada viu-se sem saída e começou a, esbravejadamente, chamar: - a alma dos ladrões! - a alma dos bandidos! - a alma dos assassinos! - a alma dos sem-vergonhas! - a alma das alcoviteiras! - a alma das putas! - a alma das mulheres da vida! - a alma das aborteiras! - a alma das feiticeiras! - a alma das mal-fazejas! - a alma dos demônios!... Nessa hora, num frênito, ela "rodopiou feito uma piorra" e correu para cair em uma beta funda na Bica da Prata. Mas foi interrompida a tempo e voltou a si esperneando as coxas brancas à mostra no ombro do negro alto e musculoso que a trouxe de volta para casa e para a realidade. Tava feito o exorcismo!
No começo dos anos 60, contavam também a história de uma moça que as 6 da tarde das sextas-feiras da Quaresma via o diabo perto dela, em uma casa na Rua do Ouro, ou Rua da Laje, e entrava em pânico. Desesperada, gritava até desmaiar, o que só acontecia quando o sol se deitava atrás da Serra do Lenheiro. Quando e como essa história acabou ninguém sabe, pois quem contava, provavelmente por ter sido testemunha, já se mudou para o além, passando pelo portão do Cemitério da Boa Morte.
- Tudo isso pode parecer muito fantástico e fantasioso, mas você já imaginou o diabo morar na igreja? - Pois ele mora! E sabe onde? Em São João del-Rei!
Mais precisamente no Distrito de Santo Antonio do Rio das Mortes Pequeno, na igreja que tem no centro da praça. Na parede direita de quem entra, o coisa ruim está lá, desapontado, desconfiado e descontente. Magro mas firme e forte, tem às mãos uma promissória vencida e cobra a dívida de uma mulher, que é advogada pelo santo milagroso, padroeiro daquele lugar, que é terra natal da beata Nhá Chica: Santo Antônio. E olha que, segundo a oração, Santo Antônio afugenta o demônio e faz aparecer as coisas perdidas!
Mas coitado do diabo! Nem que ele tenha rezado, a oração não deu resultado em seu favor, pois já se foram tantos séculos e ele ainda continua lá. Além disso, o dinheiro que a mulher lhe deve ainda não apareceu!...
Principalmente pelos são-joanenses mais simples, mais humildes, mais crédulos e menos letrados, a presença do anjo das trevas era muito temida. Chegava às vezes a ser pressentida e evitada, mas as vezes, em situações diversas, seu nome era exclamado e, mais raramente, até invocado. Quem nunca ouviu: - isso é coisa do diabo! ou, - mas que diabo, sô!, ou, ainda, - vai pro diabo que o carregue!?
Se fora de hora o galo fazia barulho estranho no galinheiro, tinha-o visto passar por perto. Se algum objeto ou documento misteriosamente sumia dentro de casa, era ele que tinha escondido. Se alguém se via diante de um desejo incontrolável de fazer algo impróprio ou condenável, era ele testando a fidelidade daquela alma ao Criador.
Aliás, até de falar seu nome tinham medo, pois se ele ouvisse poderia entender como um chamado e, então aparecer, de chifre e rabo, cheirando a enxofre, naquele local. Daí, quando queriam, ou precisavam, se referir a ele, falavam coisa-ruim, tentação, espírito mal, espírito ruim, senhor das trevas, capiroto e encardido. Este último condinome tinha o sentido de impuro, sujo, manchado, maculado ou seja, era o oposto absoluto à Imaculada Conceição, na sua divina pureza. O máximo que os antigos arriscavam dizer era capeta, nome que na escala perigosa e nefasta, era o degrau mais alto da escada decrescente que descia para diabo, demônio e, já nas profundezas do inferno, satanás e lucifer.
E com isso, histórias e estórias brotavam de toda parte, principalmente no período da Quaresma, quando acreditavam, em São João del-Rei, que o "homem" estava solto. Como o caso de uma mulher que, no fim dos anos 50 e arredores da Bica da Prata / Rua Padre Faustino, desejosa de espantar os vizinhos negros de uma casa em frente à que ela morava, às 3 da tarde de toda sexta-feira, escondida atrás do muro, secretamente jogava pedras no telhado da casa dos desafetos. Burburinho formado, gente assustada, criança de olhos arregalados, ela saía de casa e vinha tranquila e plácida, dizendo ser aquilo coisa do diabo. Essa "marafunda" durou meses, com muita reza brava na rua e vizinhos ali queimando incenso em lata de sardinha , até que um dia alguém à espreita flagrou o ato diabólico.
Denunciada publicamente em flagrante, a culpada culpou o diabo, mas a mulher testemunha ironicamente retrucou: uai, não sabia que você era o diabo, pois foi você quem vi jogando as pedras! Desconcertada, furiosa e desapontada, a vizinha endiabrada viu-se sem saída e começou a, esbravejadamente, chamar: - a alma dos ladrões! - a alma dos bandidos! - a alma dos assassinos! - a alma dos sem-vergonhas! - a alma das alcoviteiras! - a alma das putas! - a alma das mulheres da vida! - a alma das aborteiras! - a alma das feiticeiras! - a alma das mal-fazejas! - a alma dos demônios!... Nessa hora, num frênito, ela "rodopiou feito uma piorra" e correu para cair em uma beta funda na Bica da Prata. Mas foi interrompida a tempo e voltou a si esperneando as coxas brancas à mostra no ombro do negro alto e musculoso que a trouxe de volta para casa e para a realidade. Tava feito o exorcismo!
No começo dos anos 60, contavam também a história de uma moça que as 6 da tarde das sextas-feiras da Quaresma via o diabo perto dela, em uma casa na Rua do Ouro, ou Rua da Laje, e entrava em pânico. Desesperada, gritava até desmaiar, o que só acontecia quando o sol se deitava atrás da Serra do Lenheiro. Quando e como essa história acabou ninguém sabe, pois quem contava, provavelmente por ter sido testemunha, já se mudou para o além, passando pelo portão do Cemitério da Boa Morte.
- Tudo isso pode parecer muito fantástico e fantasioso, mas você já imaginou o diabo morar na igreja? - Pois ele mora! E sabe onde? Em São João del-Rei!
Mais precisamente no Distrito de Santo Antonio do Rio das Mortes Pequeno, na igreja que tem no centro da praça. Na parede direita de quem entra, o coisa ruim está lá, desapontado, desconfiado e descontente. Magro mas firme e forte, tem às mãos uma promissória vencida e cobra a dívida de uma mulher, que é advogada pelo santo milagroso, padroeiro daquele lugar, que é terra natal da beata Nhá Chica: Santo Antônio. E olha que, segundo a oração, Santo Antônio afugenta o demônio e faz aparecer as coisas perdidas!
Mas coitado do diabo! Nem que ele tenha rezado, a oração não deu resultado em seu favor, pois já se foram tantos séculos e ele ainda continua lá. Além disso, o dinheiro que a mulher lhe deve ainda não apareceu!...
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