As celebrações dos Passos de Nosso Senhor Jesus Cristo a caminho do Calvário, ou simplesmente a Festa de Passos, realizadas em São João del-Rei tem particularidades marcantes que as diferem completamente daquelas que são realizadas em outras cidades históricas mineiras.
Elas começam na primeira sexta-feira da Quaresma, com uma Via Sacra solene que se repete nas duas sextas-feiras seguintes. É um cortejo que se abre com um irmão dos Passos carregando erguida uma cruz de madeira preta, com o lençol banco na forma de um M, e se encerra com outro, carregando suspenso, em seu madeiro, um bicentenário crucificado.
Estas Vias Sacras param nas capelas-passos, onde a Orquestra Ribeiro Bastos canta motetos barrocos que, mesmo sendo muito antigos e em latim, são muito familiares aos são-joanenses. E para finalizar, canta o tradicional Senhor Deus, Misericórdia, que ecoa profundo e torna-se um lamento ainda mais pungente diante do silêncio da pequena multidão.
No quarto fim de semana da Quaresma é o ponto mais festivo das celebrações. Na sexta-feira, a imagem de Nossa Senhora das Dores é levada, coberta por um velário, para a igreja de Nossa Senhora do Carmo. No sábado, é a vez da imagem do Senhor dos Passos, que segue, também velada, para a igreja de São Francisco. Seguindo um costume que vem desde o século XVIII, os andores são enfeitados com manjericão branco e roxo e galhos de rosmaninho são desfolhados sobre o piso das igrejas, perfumando-as com um aroma seco de antiga saudade.
No domingo, acontecem pela manhã duas rasouras, quando os andores dão uma pequena volta em torno das duas igrejas, de onde, no final da tarde saem as duas procissões que se encontrarão para formar uma única. Neste dia, os andores costumam ser enfeitados com hortências azuis e roxas e o andor do Senhor dos Passos para diante das capelas-passos da Rua da Prata e do Largo do Rosário. À medida em que a procissão das igrejas, os sinos dobram em grande velocidade.
As imagens se encontram no Largo das Mercês, quando um orador sacro faz um demorado sermão, que geralmente funde fatos da vida de Cristo com situações do mundo moderno. É um discurso enfático e tocante, que busca comover a multidão e apontar a ela novo caminho, sempre terminando com o chamado a Cristo e a Nossa Senhora para que se encontrem e sigam adiante, Cristo à frente e sua mãe atrás. Por mais que qualquer são-joanense, do mais simples ao mais erudito, conheça de cor aquele enredo e seja capaz de fazer magistralmente aquele discurso e convocação, todos prestam absoluta atenção, inclusive para depois elogiar ou criticar as palavras do sacerdote orador.
A procissão termina na Matriz do Pilar, onde as imagens são postas frente a frente no vestíbulo e o altar-mor, aberto em cena do Calvário, ambienta as palavras do padre convidado para fazer o Sermão que tem o mesmo nome do monte onde o Senhor foi crucificado.
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