Em São João del-Rei, valorosos são-joanenses têm saudades. Saudades de si mesmos. Saudades de um tempo que passou como as nuvens de algodão doce e brancas amêndoas de coco distribuídas nas procissões da infância, quando a vida preexistia à memória.
Na mesma São João del-Rei, além de si mesmos e do tempo, alguns são-joanenses têm saudades da paisagem. Território de geografias físicas e rios de lembranças, naturalmente perseguido pelo correr dos séculos e duramente castigado pelos homens, no seu moderno desamor e embrutecimento.
Sem as palmeiras imperiais, enfileiradas, que se projetavam por detrás do Solar dos Lustosas, imaginariamente na Muxinga, o Largo do Rosário é uma santa sem diadema de prata e estrelas. Com palmeiras acanhadas e de menor imponência, o Largo de São Francisco mostra-se um rei empobrecido, a perder coroa e majestade. Tristemente invejando tão inglório destino, o Largo da Cruz abre mão de suas palmeiras, para também agonizar seu esplendor.
Em outros pontos da cidade, andam sequestrando ipês amarelos na sonolência das manhãs, na solidão das tardes e na escuridão das noites. Já se teme pelos brancos jasmins, pelos vermelhos bicos de papagaio, pelos pintados manacás, pelas múltiplas buganvílias, florada cada vez mais tímida a espreitar sobre os muros.
Em São João del-Rei, os valorosos são-joanenses têm muitas lembranças. Dia a dia, algumas vão transformando em irremediavel saudade...
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Ilustração: Reprodução de foto de página solta de revista (de bordo?) lamentavelmente não identificada.
Que triste... Manacás...quanto tempo não vejo um florido...e eram tantos em tantos jardins...triste...
ResponderExcluirPois é, bem podem existir de novo e florir doce perfume, como fazem os manacás. É só de novo se plantar...
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