Há exatos trinta dias da terça-feira gorda de Carnaval - que é um momento muito especial no calendário cultural de São João del-Rei - é hora de lembrar uma "entidade carnavalesca", que hoje só sobrevive na lembrança de quem já passou dos cinquenta. Zé Pereira, ele se chamava...
Apesar do nome, Zé Pereira não tinha registro civil. Sequer era uma pessoa. Eram blocos carnavalescos espontâneos que, segundo jornais são-joanenses do início do século 20 (Passarelli, 2005), eram capitaneados pelas bandas de música, reuniam muitos brincantes, tinham estandartes e carros alegóricos puxados por animais (certamente montados em carroças e, quem sabe, até em carros de bois) ou empurrados pelos próprios foliões. Há notícias de que, em 1921, em São João del-Rei, um Zé Pereira foi "puxado pela Banda de Música do 11o Regimento, uniformizada a caracter".
Com o passar do tempo, a urbanização, a industrialização, a proletarização e o enrijecimento das estruturas socioeconômicas, as agremiações Zé Pereira foram perdendo sua identidade organizacional, passando a expressão a denominar manifestações carnavalescas extremanente informais. Possivelmente surgiam aí os blocos de sujo que, não contando com banda musical nem com carros alegóricos,se ritmavam ao som de batucadas feitas em latas, frigideiras, chocalhos, reco-recos, tambores, etc, carregados de crítica e irreverência.
Nos antigos blocos de sujos, predominavam fantasias que pintavam ou mascaravam o rosto, para preservar, pelo anonimato, a intimidade do folião. Era comum mulheres fantasiarem-se de gatinhos, cobrindo o rosto com uma fronta branca com as pontas superiores amarradas formando a orelha do felino e vestindo roupas masculinas, que bem descaracterizassem seu corpo. Disfarçavam até a voz, para não serem reconhecidas. Também eram comuns as fantasias de Nega Maluca, estas vestidas por homens. Preconceituosamente, a fantasia de Nega Maluca, a um só tempo debochava - e com exagero cruel - da condiçao feminina e dos cidadãos negros.
Zé(s) Pereira(s) e blocos de sujo tinham, entre outros valores, o estímulo à livre participação, à iniciativa, à espontaneidade, à expressão e ao espírito de coletividade. Coisas que nem sempre são inspiradoras aos uniformizados e uniformes blocos urbanos atuais.
Referência: Ulisses Passarelli - Dez antigas notícias do folclore de São João del-Rei. Revista no 11 do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, 2005
Apesar do nome, Zé Pereira não tinha registro civil. Sequer era uma pessoa. Eram blocos carnavalescos espontâneos que, segundo jornais são-joanenses do início do século 20 (Passarelli, 2005), eram capitaneados pelas bandas de música, reuniam muitos brincantes, tinham estandartes e carros alegóricos puxados por animais (certamente montados em carroças e, quem sabe, até em carros de bois) ou empurrados pelos próprios foliões. Há notícias de que, em 1921, em São João del-Rei, um Zé Pereira foi "puxado pela Banda de Música do 11o Regimento, uniformizada a caracter".
Com o passar do tempo, a urbanização, a industrialização, a proletarização e o enrijecimento das estruturas socioeconômicas, as agremiações Zé Pereira foram perdendo sua identidade organizacional, passando a expressão a denominar manifestações carnavalescas extremanente informais. Possivelmente surgiam aí os blocos de sujo que, não contando com banda musical nem com carros alegóricos,se ritmavam ao som de batucadas feitas em latas, frigideiras, chocalhos, reco-recos, tambores, etc, carregados de crítica e irreverência.
Nos antigos blocos de sujos, predominavam fantasias que pintavam ou mascaravam o rosto, para preservar, pelo anonimato, a intimidade do folião. Era comum mulheres fantasiarem-se de gatinhos, cobrindo o rosto com uma fronta branca com as pontas superiores amarradas formando a orelha do felino e vestindo roupas masculinas, que bem descaracterizassem seu corpo. Disfarçavam até a voz, para não serem reconhecidas. Também eram comuns as fantasias de Nega Maluca, estas vestidas por homens. Preconceituosamente, a fantasia de Nega Maluca, a um só tempo debochava - e com exagero cruel - da condiçao feminina e dos cidadãos negros.
Zé(s) Pereira(s) e blocos de sujo tinham, entre outros valores, o estímulo à livre participação, à iniciativa, à espontaneidade, à expressão e ao espírito de coletividade. Coisas que nem sempre são inspiradoras aos uniformizados e uniformes blocos urbanos atuais.
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Referência: Ulisses Passarelli - Dez antigas notícias do folclore de São João del-Rei. Revista no 11 do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, 2005
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