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"Bacia das Almas" em São João del-Rei

Segunda-feira, Dia das Almas em Minas, também pode ser dia de muito humor. Por que não? O riso, muitas vezes ajuda a rever posturas, atitudes, crenças, medos e mitos, deixando-nos mais livres, flexíveis e dispostos a adotar outros valores e a viver uma vida melhor. A anedota abaixo, pela religiosidade, inventividade e secreto gosto dos são-joanenses pelos mistérios daqui e do além, se fosse verdade, bem poderia ter acontecido em São João del-Rei. Lá pelos lados das Mercês, da Muxinga ou da Rua das Flores. Confira e se divirta:

"Naquela cidade antiga, um cemitério era vizinho das casas, numa rua estreita e deserta. Em um lado e nos fundos, dividia o muro com quintais e pomares, cheios de velhas jabuticabeiras, cheirosas laranjeiras, floridas pitangueiras, preguiçosas bananeiras e imponentes abacateiros, cujos galhos, de tão grandes e carregados, avançavam e se debruçavam arcados para o lado do campo-santo.

Sepultado o último cristão do dia, fechado o portão, noite sem lua, as casas dormindo, dois amigos resolveram colher os abacates e dividí-los irmamente. Morto não come abacate! Pularam o muro e começaram: um pra mim, um pra você. Um pra mim, um pra você . Um pra mim, um pra você - dois abacates caíram do lado de fora do muro. Não faz mal, depois que acabar aqui, lá fora a gente pega os dois! Mais um pra mim, um pra você...Os galhos estavam tão carregados, eram tantos abacates no chão que lá dentro a divisão não acabava nunca...

Cambaleando, passa um bêbado, escuta aquela ladainha e, sem ver ninguém, sai em disparada, ladeira abaixo. No caminho encontra um companheiro e, assustado, mal consegue contar o que imagina ter ouvido: Deus e o Diabo estão no cemitério, dividindo a alma dos mortos...

O outro duvida - cê que bebeu demais. Foi só cachaça? - mas vendo tamanha certeza e querendo desmoralizar o medroso, propâs um desafio: vamos lá que eu quero ver. Se for mentira, já sabe, cê paga mais uma...

Subiram ladeira acima, pararam encostados ao muro e ouviram a voz repetindo: um pra mim, um pra você, um pra mim, um pra você. O valentão, recobrando num triz a lucidez, se apavororu: valha-me Deus, é o Juizo Final. Quando clarear vai ser o dia do Apocalipse! Vamos cair fora...

Mas antes que acabasse de falar, a voz continuou: agora que acabou aqui dentro vamos do outro lado do muro. A gente pega os dois e já sabe: a mesma coisa - um pra mim, um pra você!..."

Precisa terminar a estória?

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Colaboração: Edna Alves
Ilustração: Pintura no teto da entrada lateral direita da Matriz do Pilar (1721) - São João del-Rei

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