"Naquela cidade antiga, um cemitério era vizinho das casas, numa rua estreita e deserta. Em um lado e nos fundos, dividia o muro com quintais e pomares, cheios de velhas jabuticabeiras, cheirosas laranjeiras, floridas pitangueiras, preguiçosas bananeiras e imponentes abacateiros, cujos galhos, de tão grandes e carregados, avançavam e se debruçavam arcados para o lado do campo-santo. Sepultado o último cristão do dia, fechado o portão, noite sem lua, as casas dormindo, dois amigos resolveram colher os abacates e dividí-los irmamente. Morto não come abacate! Pularam o muro e começaram: um pra mim, um pra você. Um pra mim, um pra você . Um pra mim, um pra você - dois abacates caíram do lado de fora do muro. Não faz mal, depois que acabar aqui, lá fora a gente pega os dois! Mais um pra mim, um pra você...Os galhos estavam tão carregados, eram tantos abacates no chão que lá dentro a divisão não acabava nunca... Cambaleando, passa um bêbado, escuta aquela ladainha e, sem ver ninguém, sai em disparada, ladeira abaixo. No caminho encontra um companheiro e, assustado, mal consegue contar o que imagina ter ouvido: Deus e o Diabo estão no cemitério, dividindo a alma dos mortos... O outro duvida - cê que bebeu demais. Foi só cachaça? - mas vendo tamanha certeza e querendo desmoralizar o medroso, propâs um desafio: vamos lá que eu quero ver. Se for mentira, já sabe, cê paga mais uma... Subiram ladeira acima, pararam encostados ao muro e ouviram a voz repetindo: um pra mim, um pra você, um pra mim, um pra você. O valentão, recobrando num triz a lucidez, se apavororu: valha-me Deus, é o Juizo Final. Quando clarear vai ser o dia do Apocalipse! Vamos cair fora... Mas antes que acabasse de falar, a voz continuou: agora que acabou aqui dentro vamos do outro lado do muro. A gente pega os dois e já sabe: a mesma coisa - um pra mim, um pra você!..." Precisa terminar a estória? ...................................................................... Colaboração: Edna Alves |
Debaixo de São João del-Rei existe uma outra São João del-Rei. Subterrânea, de pedra, cheia de ruas, travessas e becos, abertos por escravos no subsolo são-joanense no século XVIII, ao mesmo tempo em que construíam as igrejas de ouro e as pontes de pedra. A esta cidade ainda ora oculta se chega por 20 betas de grande profundidade, cavadas na rocha terra adentro há certos 300 anos. Elas se comunicam por meio de longas, estreitas e escuras galerias - veias e umbigo do ventre mineral de onde se extraíu, durante dois séculos, o metal dourado que valia mais do que o sol. Não se tem notícia de outra cidade de Minas que tenha igual patrimônio debaixo de seu visível patrimônio. Por isto, quando estas betas tiverem sido limpas e tratadas como um bem histórico, darão a São João del-Rei um atrativo turístico que será único, no Brasil e no mundo. Atualmente, uma beta, nas imediações do centro histórico, já pode ser visitada e percorrida. Faltam outras 19, já mapeadas, dependendo da sensi
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