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Líricos e poéticos becos de São João del-Rei: Beco do Salto, veiazinha de um coração colonial

O Beco do Salto é como uma veiazinha estreita e acanhada, na aurícula mais colonial do coração histórico de São João del-Rei. Unindo a Rua Santa Teresa à Rua Santo Elias e desaguando em esquina da casa mais antiga da cidade, tem por vizinhos próximos, quase porta a porta, uma grande pedreira com uma mina de ouro, a igreja e o Cemitério do Carmo, o Chafariz da Municipalidade, o Largo da Cruz, o Largo do Carmo e a Sociedade de Concertos Sinfônicos de São João del-Rei.

Tão grande e por tanto tempo foram sua timidez e autoabandono que suas casas quase se autoarruinaram. Hoje, com restaurações, estão novamente reforçando sua face de outros tempos. A memória nacional ganha com isto.

Personagens famosos, verdadeiramente importantes na cultura musical de São João del-Rei, moradores de um pequenino sobrado no Beco do Salto, foram o violinista Geraldo Ivon da Silva, o Geraldo Patusca, e sua primeira esposa, Maria José, a Maricota - ambos músicos da Orquestra Lira Sanjoanense. Ali, sob estampas de São Miguel Arcanjo, atacando o demônio, e Santa Cecília, dedilhando sua harpa, Patusca dava aulas de música. Na orquestra mais antiga das Américas, por mais de sessenta anos, foi o primeiro violino, tendo ao lado Maricota, que o acompanhava com arco e viola.

O Beco do Salto é das vielas mais curtas e estreitas existentes em São João del-Rei. De esquina a esquina, tem apenas, de um lado, nove casas, das quais seis não têm mais do que uma porta e uma janela. Daí pensar-se que seu nome não deriva da conhecida parte destacada da sola dos sapatos, mas sim dos poucos passos que se precisa dar para atravessá-lo de ponta a ponta. É um pulo! Ou melhor dizendo, um salto!

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Texto e foto: Antonio Emilio da Costa

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