Templo da Cultura, São João del-Rei é também oratório da memória. Aqui, o passado é vivo e, noite e dia, sem nostalgia, pulsa com vitalidade e dinamismo. Isto é constatado no que é conservado, no que é preservado, no que é resgatado, no que é restaurado, no que é reconstituído, no que é reconquistado, no que é vivificado. Em São João del-Rei a cultura não se separa da vida.
A historiadores, antropólogos, especialistas e estudiosos do culto, zelo e manutenção do passado surpreende a paixão devotada com que os são-joanenses cultuam sua memória. Eles não têm dúvidas: muito mais do que a ação e a responsabilidade estatal, o que certamente possibilitou a sobrevivência, quase inalterada, de tão expressivo patrimônio imaterial foram a identificação e a dedicação do povo de São João del-Rei à cultura local, perenizada por meio da tradição.
Isto não aconteceu, com a mesma intensidade, em relação ao patrimônio arquitetônico. A evolução econômica da cidade, à revelia da estagnação provocada pelo esgotamento minerador, manteve e impulsionou o desejo de progresso, incentivando a adoção de novos conceitos estéticos de espaço urbano, incluindo aí as fachadas. Contudo, mesmo depois que progresso tornou-se sinônimo de desenvolvimento e que no país o Estado assumiu papel protetor em relação ao patrimônio arquitetônico, notadamente o colonial, a paisagem de São João del-Rei continuou sofrendo grandes agressões. Volta e meia, ainda sofre violências estéticas ou estruturais, na calada da noite ou em plena luz do dia.
Já o patrimônio imaterial - que a muitos parece frágil - em São João del-Rei cada vez se fortalece e mais se faz presente no centro histórico. Os ternos de Congada e grupos de Folia de Reis antes eram considerados manifestação inferior, sequer cultural ou folclórica e, por isso, ficavam segregados na periferi. Agora "conquistaram o direito" de correr o centro da cidade; participam de procissões e cortejos oficiais, apresentam-se até como atração artística. O toque dos sinos são-joanenses são cada vez mais conhecidos, reconhecidos e apreciados. As Encomendações de Almas nunca alteraram seu trajeto e inspiram reinterpretações na forma teatral. O culto e a Exaltação à Santa Cruz têm tudo para ser resgatados (e é bem possível que se encaminhe para isso), com a colocãção de cruzes enfeitadas nas portas das residências, nos dias 3 de maio e 14 de setembro.
O patrimônio imaterial de São João del-Rei sobrevive com tanto vigor e vitalidade porque é patrimônio coletivo. Do povo. Sua conservação e preservação só dependem de uma coisa: paixão! Por isso é guardado no relicário da vida.
Já a maioria das edificações que constituem o patrimônio arquitetônico, construído, material ...
Comentários
Postar um comentário