Pular para o conteúdo principal

O mineiro, por João Guimarães Rosa


O mineiro é um mistério. Intrigante e misterioso, tal qual o Mistério da Santíssima Trindade, que se resume em uma pergunta: como podem ser três pessoas em uma só? Do mesmo modo, o homem natural das Alterosas - como podem os nativos de um estado que é diverso, múltiplo e plural (Minas Gerais) ser uma "entidade" só?

Esta provocação inicial ambiciona lembrar que o mineiro nada mais é do uma construção simbólica, forjada a partir de elementos culturais. Entenda-se "culturais" como um balaio de gatos onde se misturam  aspectos psicológicos, sociológicos e antropológicos em todas as suas variáveis: religiosidade, identidade, história, autoimagem, memória, territorialidade, imaginário, representatividade, mineirismo, mineirice, mineiridade e por aí afora.

Mineiro é uma construção simbólica, mas existe em corpo, alma, sangue e divindade! Como pode? Mistério complicado este dos mineiros...

  O Mineiro, por João Guimarães Rosa

"... mineiro não se move de graça.
Ele permanece e conserva.
E espia, escuta, indaga, protela ou palia,

se sopita, tolera, remancheia, perrengueia,
sorri, escapole, se retarda, faz véspera,
tempera, cala a boca, matuta,
destorce, engambela, pauteia, se prepara.
Mas, sendo a vez, sendo a hora,
Minas entende, atende, toma tento,

avança, peleja e faz. "

Homenagem a Guimarães Rosa, nesta segunda-feira, 27 de junho, que é a data de seu 103º aniversário de nascimento.

Fonte: Ave Palavra, 3a edição, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, páginas 273 e 274.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Debaixo de São João del-Rei, existe uma São João del-Rei subterrânea que ninguém conhece.

Debaixo de São João del-Rei existe uma outra São João del-Rei. Subterrânea, de pedra, cheia de ruas, travessas e becos, abertos por escravos no subsolo são-joanense no século XVIII, ao mesmo tempo em que construíam as igrejas de ouro e as pontes de pedra. A esta cidade ainda ora oculta se chega por 20 betas de grande profundidade, cavadas na rocha terra adentro há certos 300 anos.  Elas se comunicam por meio de longas, estreitas e escuras galerias - veias  e umbigo do ventre mineral de onde se extraíu, durante dois séculos, o metal dourado que valia mais do que o sol. Não se tem notícia de outra cidade de Minas que tenha igual patrimônio debaixo de seu visível patrimônio. Por isto, quando estas betas tiverem sido limpas e tratadas como um bem histórico, darão a São João del-Rei um atrativo turístico que será único, no Brasil e no mundo. Atualmente, uma beta, nas imediações do centro histórico, já pode ser visitada e percorrida. Faltam outras 19, já mapeadas, dependendo da sensi

Em São João del-Rei não se duvida: há 250 anos, Tiradentes bem andou pela Rua da Cachaça...

As ruas do centro histórico de São João del-Rei são tão antigas que muitas delas são citadas em documentos datados das primeiras décadas do século XVIII. Salvo poucas exceções, mantiveram seu traçado original, o que permite compreender como era o centro urbano são-joanense logo que o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes tornou-se Vila de São João del-Rei. O Largo do Rosário, por exemplo, atual Praça Embaixador Gastão da Cunha, surgiu antes mesmo de 1719, pois naquele ano foi benta a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, nele situada e que originalmente lhe deu nome. Também neste ano já existia o Largo da Câmara, hoje, Praça Francisco Neves, conforme registro da compra de imóveis naquele local, para abrigar a sede da Câmara de São João del-Rei. A Rua Resende Costa, que liga o Largo do Carmo ao Largo da Cruz, antigamente chamava-se Rua São Miguel e, em 1727, tinha lojas legalizadas, funcionando com autorização fornecida pelo Senado da Câmara daquela Vila colonial.  Por

Padre José Maria Xavier, nascido em São João del-Rei, tinha na testa a estrela da música barroca oitocentista

 Certamente, há quase duzentos anos , ninguém ouviu quando um coro de anjos cantou sobre São João del-Rei. Anunciava que, no dia 23 de agosto de 1819, numa esquina da Rua Santo Antônio, nasceria uma criança mulata, trazendo nas linhas das mãos um destino brilhante: ser um dos grandes - senão o maior - músico colonial mineiro do século XIX . Pouco mais de um mês de nascido, no dia 27 de setembro, (consagrado a São Cosme e São Damião) em cerimônia na Matriz do Pilar, o infante foi batizado com o nome  José Maria Xavier . Ainda na infância, o menino mostrou gosto e vocação para música. Primeiro nos estudos de solfejo, com seu tio, Francisco de Paula Miranda, e, em seguida dominando o violino e o clarinete. Da infância para a adolescência, da música para o estudo das linguas, José Maria aprendeu Latim e Francês, complementando os estudos com História, Geografia e Filosofia. Tão consistente era seu conhecimento que necessitou de apenas um ano para cursar Teologia em Mariana . Assim, j