Minas busca sempre o equilíbrio porque, montanhosa, é terra de altos e baixos. Seu povo evita o conflito e aspira harmonia e consenso porque conhece e reconhece seus próprios antagonismos e os males que podem causar suas agudas contradições. Em São João del-Rei é assim. Minas e mineiros, prevenidos que são, sonham com a pluralidade, com a unidade na diversidade, enfim, com a universalidade.
E têm consciência que, para alcançá-las, é preciso se conhecer profundamente, sem fechar os olhos nem para os vícios, nem para as virtudes. Afinal, tal qual cara e coroa, vício e virtude são faces de uma mesma moeda. Espelhos e avessos, um é a medida do outro.
Pensando assim, continuemos refletindo sobre o que Frei Beto, na coleta de ditados populares, frases de caminhão e outras expressões de domínio público, apresenta como definições e explicações do que é
"Mineiro é isso, sô! Come as sílabas pra não morrer pela boca. Fala manso pra quebrar as resistências do interlocutor. Sonega letras pra economizar palavras. De vossa mercê passa pra vossemecê, vossência, vosmecê, você, ocê, cê e, num demora muito, usará só o acento circunflexo!
Mineiro fala um dialeto que só outro mineiro entende, como aquele sujeito que, à beira do fogão de lenha, ensinava o outro a fazer café. Fervida a água, o aprendiz indagou: pó pô pó? Ao que o outro respondeu: pó pô pó, confirmando em seguida: pó pô.Ser mineiro é saber criar bois, filhos e versos. É ir ao teatro, não para ver, mas para ser visto. É frequentar igreja para fingir piedade; rir antes de contar a piada e chorar com a desgraça alheia.
Mineiro adora sala de visitas encerada e trancada, na esperança do retorno do rei. Avarento não lê jornal de uma só vez para não gastar as letras, e ainda guarda para o dia seguinte, para poder ter notícias para ler e novidades a contar. Mineiro não lê, passa os olhos. Não fala ao telefone, dá recado.Praia de mineiro é barzinho; restaurante, balcão de armazém e cerca de curral. Ali, a língua rola solta na conversa mole, como se o tempo fosse eterno. Certo mesmo é que o momento é terno...
Ser mineiro é ajoelhar na igreja para ver melhor as pernas da viúva, frequentar batizados para pedir votos e ir a casamento para exibir roupa nova. Mineiro vai a enterro para conferir quem continua vivo. Nunca sabe o que dizer aos parentes do morto, mas fica horas na fila de condolências para marcar presença e ser percebido. Leva sempre um lenço no bolso para o caso de ter que enxugar as lágrimas da família. Não manda flores porque desconfia que a floricultura não cumpre o trato e ainda embolsa o dinheiro.
Ser mineiro é esbanjar tolerância para mendigar afeto. É proferir definições sem se definir. É contar casos sem falar de si próprio. Mineiro é feito pedra preciosa: visto sem atenção não revela o valor que tem."
http://diretodesaojoaodelrei.blogspot.com/2011/05/mineirice-mineirismo-e-mineiridade.html
http://diretodesaojoaodelrei.blogspot.com/2011/05/mineirice-mineirismo-e-mineiridade_30.html
E têm consciência que, para alcançá-las, é preciso se conhecer profundamente, sem fechar os olhos nem para os vícios, nem para as virtudes. Afinal, tal qual cara e coroa, vício e virtude são faces de uma mesma moeda. Espelhos e avessos, um é a medida do outro.
Pensando assim, continuemos refletindo sobre o que Frei Beto, na coleta de ditados populares, frases de caminhão e outras expressões de domínio público, apresenta como definições e explicações do que é
Ser mineiro (terceira parte)
"Mineiro é isso, sô! Come as sílabas pra não morrer pela boca. Fala manso pra quebrar as resistências do interlocutor. Sonega letras pra economizar palavras. De vossa mercê passa pra vossemecê, vossência, vosmecê, você, ocê, cê e, num demora muito, usará só o acento circunflexo!
Mineiro fala um dialeto que só outro mineiro entende, como aquele sujeito que, à beira do fogão de lenha, ensinava o outro a fazer café. Fervida a água, o aprendiz indagou: pó pô pó? Ao que o outro respondeu: pó pô pó, confirmando em seguida: pó pô.Ser mineiro é saber criar bois, filhos e versos. É ir ao teatro, não para ver, mas para ser visto. É frequentar igreja para fingir piedade; rir antes de contar a piada e chorar com a desgraça alheia.
Mineiro adora sala de visitas encerada e trancada, na esperança do retorno do rei. Avarento não lê jornal de uma só vez para não gastar as letras, e ainda guarda para o dia seguinte, para poder ter notícias para ler e novidades a contar. Mineiro não lê, passa os olhos. Não fala ao telefone, dá recado.Praia de mineiro é barzinho; restaurante, balcão de armazém e cerca de curral. Ali, a língua rola solta na conversa mole, como se o tempo fosse eterno. Certo mesmo é que o momento é terno...
Ser mineiro é ajoelhar na igreja para ver melhor as pernas da viúva, frequentar batizados para pedir votos e ir a casamento para exibir roupa nova. Mineiro vai a enterro para conferir quem continua vivo. Nunca sabe o que dizer aos parentes do morto, mas fica horas na fila de condolências para marcar presença e ser percebido. Leva sempre um lenço no bolso para o caso de ter que enxugar as lágrimas da família. Não manda flores porque desconfia que a floricultura não cumpre o trato e ainda embolsa o dinheiro.
Ser mineiro é esbanjar tolerância para mendigar afeto. É proferir definições sem se definir. É contar casos sem falar de si próprio. Mineiro é feito pedra preciosa: visto sem atenção não revela o valor que tem."
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Continua em breve. Enquanto isso, acompanhe o que já foi publicado sobre Ser Mineiro no almanaque eletrônico Tencões & terentenas, acessando os links abaixo:http://diretodesaojoaodelrei.blogspot.com/2011/05/mineirice-mineirismo-e-mineiridade.html
http://diretodesaojoaodelrei.blogspot.com/2011/05/mineirice-mineirismo-e-mineiridade_30.html
Não deixo de vir aqui, ler estas publicações fantásticas sobre São João Del Rey! Parabéns, Emilio!
ResponderExcluirQue bom Paullo. Vem mais novidade por aí...Grande abraço!
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