Pular para o conteúdo principal

Um hospício em São João del-Rei?


Isso mesmo. São João del-Rei foi uma das três primeiras vilas mineiras a ter o Hospício da Terra Santa, instalado em 1740. Mas que hospício era esse e a quem se destinava?

Bem, os Hospícios da Terra Santa eram residências temporárias dos frades da Ordem de São Francisco de Assis, que se dedicavam a pedir esmolas para a conservação dos Lugares Santos, em Jerusalém. Conta a História que, depois das Cruzadas, São Francisco foi ao Oriente e conseguiu, do sultão do Egito, autorização para os franciscanos cuidarem dos santuários cristãos, com exclusividade para o Santo Sepulcro, o Monte Sião e Belém.

Como em Minas Colonial era proibido o estabelecimento de conventos, os “frades de cordão” conseguiram permissão para o instituir hospícios, que se diferenciavam dos conventos por serem residências temporárias para frades esmoleres se hospedarem e descansarem nos trajetos de suas viagens pelo sertão. Nos hospícios, apenas os empregados eram permanentes.

Outra diferença em relação aos conventos é que nos hospícios a capela ficava na área interna, sem ligação para a  rua e com acesso permitido apenas aos frades visitantes. Nela, não se celebrava missa pública nem se administrava sacramentos. Entretanto, nos hospícios, a vida para os frades era mais livres, pois estavam desobrigados da disciplina rígida imposta nos conventos.

Uma pergunta:
Será que existe alguma relação entre o trabalho dos frades esmoleres, que se hospedavam nos Hospícios da Terra Santa, e a exclamação “Para a cera do Santo Sepulcro!”, que se ouve nas igrejas são-joanenses, ao som de matracas, nas visitações noturnas de Quinta-Feira Santa e diurnas de Sexta-Feira da Paixão?
.........................................................................
Fonte: BARBOSA, W.A. - Dicionário da Terra e da Gente de Minas.Secretaria da Cultura / Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte, 1985.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Debaixo de São João del-Rei, existe uma São João del-Rei subterrânea que ninguém conhece.

Debaixo de São João del-Rei existe uma outra São João del-Rei. Subterrânea, de pedra, cheia de ruas, travessas e becos, abertos por escravos no subsolo são-joanense no século XVIII, ao mesmo tempo em que construíam as igrejas de ouro e as pontes de pedra. A esta cidade ainda ora oculta se chega por 20 betas de grande profundidade, cavadas na rocha terra adentro há certos 300 anos.  Elas se comunicam por meio de longas, estreitas e escuras galerias - veias  e umbigo do ventre mineral de onde se extraíu, durante dois séculos, o metal dourado que valia mais do que o sol. Não se tem notícia de outra cidade de Minas que tenha igual patrimônio debaixo de seu visível patrimônio. Por isto, quando estas betas tiverem sido limpas e tratadas como um bem histórico, darão a São João del-Rei um atrativo turístico que será único, no Brasil e no mundo. Atualmente, uma beta, nas imediações do centro histórico, já pode ser visitada e percorrida. Faltam outras 19, já mapeadas, dependendo da sensi

Em São João del-Rei não se duvida: há 250 anos, Tiradentes bem andou pela Rua da Cachaça...

As ruas do centro histórico de São João del-Rei são tão antigas que muitas delas são citadas em documentos datados das primeiras décadas do século XVIII. Salvo poucas exceções, mantiveram seu traçado original, o que permite compreender como era o centro urbano são-joanense logo que o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes tornou-se Vila de São João del-Rei. O Largo do Rosário, por exemplo, atual Praça Embaixador Gastão da Cunha, surgiu antes mesmo de 1719, pois naquele ano foi benta a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, nele situada e que originalmente lhe deu nome. Também neste ano já existia o Largo da Câmara, hoje, Praça Francisco Neves, conforme registro da compra de imóveis naquele local, para abrigar a sede da Câmara de São João del-Rei. A Rua Resende Costa, que liga o Largo do Carmo ao Largo da Cruz, antigamente chamava-se Rua São Miguel e, em 1727, tinha lojas legalizadas, funcionando com autorização fornecida pelo Senado da Câmara daquela Vila colonial.  Por

Padre José Maria Xavier, nascido em São João del-Rei, tinha na testa a estrela da música barroca oitocentista

 Certamente, há quase duzentos anos , ninguém ouviu quando um coro de anjos cantou sobre São João del-Rei. Anunciava que, no dia 23 de agosto de 1819, numa esquina da Rua Santo Antônio, nasceria uma criança mulata, trazendo nas linhas das mãos um destino brilhante: ser um dos grandes - senão o maior - músico colonial mineiro do século XIX . Pouco mais de um mês de nascido, no dia 27 de setembro, (consagrado a São Cosme e São Damião) em cerimônia na Matriz do Pilar, o infante foi batizado com o nome  José Maria Xavier . Ainda na infância, o menino mostrou gosto e vocação para música. Primeiro nos estudos de solfejo, com seu tio, Francisco de Paula Miranda, e, em seguida dominando o violino e o clarinete. Da infância para a adolescência, da música para o estudo das linguas, José Maria aprendeu Latim e Francês, complementando os estudos com História, Geografia e Filosofia. Tão consistente era seu conhecimento que necessitou de apenas um ano para cursar Teologia em Mariana . Assim, j