Pular para o conteúdo principal

Do barroco ao eletroacústico: mais música em São João del-Rei

Você acha que é possível um são-joanense  apaixonado por composições sacras mineiras dos séculos XVIII e XIX  - executadas principalmente na Semana Santa e nas muitas novenas das igrejas barrocas de São João del-Rei  - ser também amante da música eletroacústica? Pois lhe digo que sim e que isto não é adultério. E digo até o nome dele: Francisco José dos Santos Braga.

Além de se destacar como estudioso, concertista e compositor deste estilo de música contemporânea, Braga deu grande contribuição para o crescimento do número de corais em nosso país. Foram dele o projeto e os esforços para criação do Coral do Senado Federal, em Brasília, do qual fez parte, na fase inicial, como pianista. Este é mais um exemplo de que a musicalidade de São João del-Rei sempre atravessa as ondas minerais da Serra do Lenheiro e semeia claves de sol e notas musicais nos mais diversos e distantes pontos do território brasileiro.

Mas muito antes disso, nos idos de 1960, em São João del-Rei, nosso compositor  integrou o coral dos Meninos Cantores do Ginásio Santo Antônio, que tinha no repertório clássicos de Bach, Schubert,  Lasso, Mendoza y Cortes, entre outros grandes compositores eruditos e populares. A lembrança desse tempo é tão preciosa que Braga enumera de cor o nome completo de, pelo menos, vinte meninos que compunham o coral, assim como se recorda, respeitoso e agradecido, do frei Orlando Rabuske - fundador, regente e mantenedor daquele coral infanto-juvenil.

Cultura, história, patrimônio.  Estas são outras paixões da vida de Braga. Nos anos 90, muitos e grandiosos foram as ações que ele empreendeu para mostrar a cidadania são-joanense do herói Tiradentes, inclusive redigindo discursos parlamentares, depois publicados e difundidos para escolas, bibliotecas e acervos de instituições culturais. Recentemente, foi protagonista no processo de instituição do Dia da Liberdade e da Cidadania, festejado anualmente no dia 12 de novembro para comemorar o aniversário de nascimento de Joaquim José da Silva Xavier.  É participante ativo do projeto de criação do circuito religioso-cultural relativo a Nhá Chica e integra conselhos de representativas instituições culturais são-joanenses, nacionais e até de outros países.

Para felicidade de São João del-Rei, Francisco Braga voltou a residir na cidade. Assim, agora pode dedicar seu dia a dia a zelar, produzir, difundir e repercutir a cultura são-joanense. E enriquecer a todos, com sua conversa gentil e amiga, serena como o orvalho da manhã que em paz refresca campos e vertentes desta "terra querida e formosa de São João del-Rei".

............................................................................
Sobre a musicalidade de São João del-Rei, leia também
http://diretodesaojoaodelrei.blogspot.com.br/2011/04/o-pai-da-musica-vive-em-sao-joao-del.html

Para saber mais sobre o Coral dos Meninos Cantores Externos do Ginásio Santo Antônio, acesse http://bragamusician.blogspot.com.br/2009/12/105-anos-
da-presenca-franciscana-em-sao_9760.html

Comentários

  1. Que orgulho tenho desse meu amigo, o Braga ! Meu coração se enche de alegria quando vejo a grande diferença que ele e a Rute estão fazendo nessa linda cidade.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Debaixo de São João del-Rei, existe uma São João del-Rei subterrânea que ninguém conhece.

Debaixo de São João del-Rei existe uma outra São João del-Rei. Subterrânea, de pedra, cheia de ruas, travessas e becos, abertos por escravos no subsolo são-joanense no século XVIII, ao mesmo tempo em que construíam as igrejas de ouro e as pontes de pedra. A esta cidade ainda ora oculta se chega por 20 betas de grande profundidade, cavadas na rocha terra adentro há certos 300 anos.  Elas se comunicam por meio de longas, estreitas e escuras galerias - veias  e umbigo do ventre mineral de onde se extraíu, durante dois séculos, o metal dourado que valia mais do que o sol. Não se tem notícia de outra cidade de Minas que tenha igual patrimônio debaixo de seu visível patrimônio. Por isto, quando estas betas tiverem sido limpas e tratadas como um bem histórico, darão a São João del-Rei um atrativo turístico que será único, no Brasil e no mundo. Atualmente, uma beta, nas imediações do centro histórico, já pode ser visitada e percorrida. Faltam outras 19, já mapeadas, dependendo da sensi

Em São João del-Rei não se duvida: há 250 anos, Tiradentes bem andou pela Rua da Cachaça...

As ruas do centro histórico de São João del-Rei são tão antigas que muitas delas são citadas em documentos datados das primeiras décadas do século XVIII. Salvo poucas exceções, mantiveram seu traçado original, o que permite compreender como era o centro urbano são-joanense logo que o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes tornou-se Vila de São João del-Rei. O Largo do Rosário, por exemplo, atual Praça Embaixador Gastão da Cunha, surgiu antes mesmo de 1719, pois naquele ano foi benta a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, nele situada e que originalmente lhe deu nome. Também neste ano já existia o Largo da Câmara, hoje, Praça Francisco Neves, conforme registro da compra de imóveis naquele local, para abrigar a sede da Câmara de São João del-Rei. A Rua Resende Costa, que liga o Largo do Carmo ao Largo da Cruz, antigamente chamava-se Rua São Miguel e, em 1727, tinha lojas legalizadas, funcionando com autorização fornecida pelo Senado da Câmara daquela Vila colonial.  Por

Padre José Maria Xavier, nascido em São João del-Rei, tinha na testa a estrela da música barroca oitocentista

 Certamente, há quase duzentos anos , ninguém ouviu quando um coro de anjos cantou sobre São João del-Rei. Anunciava que, no dia 23 de agosto de 1819, numa esquina da Rua Santo Antônio, nasceria uma criança mulata, trazendo nas linhas das mãos um destino brilhante: ser um dos grandes - senão o maior - músico colonial mineiro do século XIX . Pouco mais de um mês de nascido, no dia 27 de setembro, (consagrado a São Cosme e São Damião) em cerimônia na Matriz do Pilar, o infante foi batizado com o nome  José Maria Xavier . Ainda na infância, o menino mostrou gosto e vocação para música. Primeiro nos estudos de solfejo, com seu tio, Francisco de Paula Miranda, e, em seguida dominando o violino e o clarinete. Da infância para a adolescência, da música para o estudo das linguas, José Maria aprendeu Latim e Francês, complementando os estudos com História, Geografia e Filosofia. Tão consistente era seu conhecimento que necessitou de apenas um ano para cursar Teologia em Mariana . Assim, j