Ninguém duvida: os sinos são um dos mais importantes, consagrados, conhecidos e reconhecidos símbolos de São João del-Rei. Não precisa nem olhar para o alto nem estar perto de alguma igreja do centro histórico para perceber. Eles falam por si.Todo dia - uns mais outros menos - toda hora, sua metade e quartos, eles estão ali, marcando o tempo e as eras, tocando, dobrando, mandando mensagens, quase todas falando de Deus. Alguns, toques alegres, entusiasmados, festivos, outros, dobres dolentes, reflexivos, pungentes, tristes, fúnebres.
Chamadas para missas, momento do glória e da consagração, aviso de novena, saída, passagem e chegada de procissão, Te Deum, ofícios e funções litúrgicas especiais. Falecimentos. Enterros. Em São João del-Rei nada acontece sem a presença e a voz do sino. Até o Carnaval, quando várias vezes ele chama para as Quarenta Horas de Adoração ao Santíssimo Sacramento e avisa, às nove da noite da Terça-Feira Gorda, que dentro de três horas a Quarta-Feira de Cinzas trará a Quaresma, que é tempo de jejum, penitência e oração.
Mas o que é o sino sem o sineiro? Apenas um objeto de madeira, bronze e ferro, suspenso em um campanário, contemplativo a mirar dia e noite o céu e o horizonte. Sendo assim, tanto quanto os sinos, e junto deles, os sineiros também devem ser consagrados, conhecidos e reconhecidos como um dos mais importantes símbolos vivos de São João del-Rei.
É certo que sobretudo na última década e meia, e com absoluta justiça, cada dia mais os sineiros ocupam posição relevante na cultura de São João del-Rei. O ofício foi reconhecido como profissão; pesquisadores, estudiosos, acadêmicos e produtores culturais têm se dedicado a registrar suas histórias, inventariar os toques e dobres, gravar e filmar o corajoso míster que é "catar" o sino, colocá-lo "a pino" e "dobrá-lo" até exaurir as forças, repetidamente.
Entretanto, isto ainda é pouco, tendo em vista que a admiração que os são-joanenses nutrem por estes personagens - que são a um só tempo protagonistas e coadjuvantes das tradições barrocas de nossa cidade - é sempre individualizada no sineiro-instrumentista, que é o homem feito ou "em fazimento", dotado de habilidade, coragem e vocação para vibrar o metal, e não voltada para a "entidade", ou se preferirem para o "instituto", que é o sineiro. Aquilo de que se investe o instrumentista, homem ou menino, dotado de habilidade, coragem e vocação, quando sobe até as sineiras e toca, dobra, repica tencões, terentenas, floreados, tens-tolins, clens, batucadas, batucadinhas, canjica queimou, pé-de-galinha, Ângelus e tantos outros toques e dobres.
É pensando assim que este Almanaque Eletrônico Tencões & terentenas sugere a criação do Dia do Sineiro. Para ser legitimado pela representatividade coletiva, este ato poderia resultar de uma ação conjunta reunindo o Poder Público Municipal, a Diocese de São Joao del-Rei / Paróquia do Pilar e a comunidade cultural e acadêmica são-joanense.
Para tanto, há de se pensar em uma data muito digna e significativa e neste sentido esta sugestão ousa apresentar o dia 12 de novembro, data que, evocando o distante ano 1746, leva-nos ao Batismo de Tiradentes, e indiretamente ao altar da Capela da Fazenda do Pombal, patrimônio de inestimável valor pertencente ao Museu de Arte Sacra de São João del-Rei.
A criação da data ocasionará comemoração anual dos dois fatos, sem qualquer prejuízo para outras programações intermunicipais já existentes. Além disto, enriquecerá o calendário cívico-cultural são-joanense, renderá tributos de reverência a importantes personagens-símbolo de São João del-Rei de ontem e de hoje e contribuirá ainda mais para a valorização e perpetuação de um ofício que faz bater ainda mais sonoro e feliz o coração de nossa terra!
Texto: Antonio Emilio da Costa
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OBS - Foto colhida do Facebook, sem identificação. Por isto está sem crédito de autoria. Tão logo se identifique, será mencionado
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