Mas além disso tudo o metal dourado, de onde saiu, nos deixou mais. Uma riqueza de valor inestimável, pouco conhecida e menos ainda valorizada, sobretudo para fins culturais e turísticos: as betas de ouro. Somente no centro histórico e arredores, elas são muitas - há quem fale em mais de 20! - o que também é extraordinário em relação às demais cidades históricas.
Porém muito pouco se fala sobre nossas betas. Salvo uma ou outra matéria de jornal ou de televisão, publicada ou veiculada há vários anos, nada mais se falou publicamente sobre esse assunto. Sabe-se que quase todas estão cobertas de lixo e muitas, no fundo de quintais particulares, certamente nem foram mencionadas em possível relação que eventualmente tenha sido feita por algum estudioso ou por alguma instituição sobre esse bem histórico-cultural.
Sabe-se também que elas são objetos de alguns trabalhos científicos, mas como é comum na relação do universo acadêmico com a comunidade (e isso é uma pena1), essas produções não conseguem ultrapassar os portões dos territórios do saber e se transformar em conhecimento para a população local, ganhando assim verdadeira e imediata utilidade pública.
Sabemos um documentário precioso sobre esse assunto, exibido no Museu Regional, que refere-se muito valorosamente aos mineradores e seus descendentes, ao falar sobre a importância do Alto das Mercês e do Ribeirão de São Francisco Xavier na gênese de São João del-Rei. Sabemos também da existência de uma pesquisa de mestrado realizada na Universidade Federal de Pelotas, chamada "Ouro, lenda e identidade: reflexões sobre a prática mineradora na cidade de São João del-Rei", desenvolvida por Ana Flávia N. Paes, apresentada parcialmente no II CONINTER - Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades, em Belo Horizonte, há cinco anos.
A Universidade de São João del-Rei, por meio do Museu do Barro, pelo que foi apresentado na Semana de Museus, também considera e estuda a(s) beta(s) que existe(m) naquele sítio. Entretanto, ao que parece, para a comunidade / sociedade são-joanense, de modo geral, nada mais existe relacionado ao Ciclo do Ouro em nossa cidade a não ser os documentos históricos e o patrimônio cultural arquitetônico, urbanístico e imaterial já mencionados.
Sendo assim, a impressão que se tem é que a cidade desconhece essa riqueza que possui e não sabe, ou não pensa, que pode "explorá-la" (êpa!, no bom sentido!) para, por meio dela, aumentar o interesse de visitantes por nossa São João, incrementar o movimento turístico com novos atrativos, gerar mais empregos e, assim, ao mesmo tempo, melhorar a qualidade de vida da população, dinamizar o comércio e aumentar a arrecadação do município.
Que a Secretaria Municipal de Cultura, hoje tão atenta para a valorização e potencialização de nossa cultura, volte seu olhar para a riqueza, sob todos os aspectos, que as betas de ouro representam para nossa cidade. Que coloque esse assunto em pauta, congregando em torno dele todos os setores que a ele se relacionem, para que esses bens ganhem o reconhecimento que merecem, mobilizem os esforços necessários à sua valorização e se convertam em fonte de conhecimento e auto-estima para a população são-joanense, de informação e experiência para estudiosos, turistas e visitantes, de receitas para o comércio local e de divisas para o município.
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Foto e texto: Antonio Emilio da Costa
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