No meio de tanta festança que no mês de setembro acontece no centro histórico de São João del-Rei - todas grandiosamente belas, corporativamente promovidas pelas Irmandades e Confrarias setecentistas -, pode parecer que não existe espaço para manifestações culturais singelas e espontâneas. Mas não é bem assim.
Mal avançam as primeiras horas da manhã do dia 27 de setembro, já se percebe nos mais diferentes pontos da cidade, principalmente nas áreas residenciais dos bairros, um alvoroço diferente: são as crianças correndo atrás dos doces distribuídos pelos adultos para saudar São Cosme e São Damião. Balas de coco, paçoca, pé de moleque, maria-mole, pirulito, doce de batata doce, pipoca industrializada - tudo vale para adoçar a vida e acariciar a infância da inocência, legítima e verdadeira. Não aquela oficialmente "pastichificada" no comercial Dia da Criança.
Na verdade, a tradição de deixar doces e balas nos jardins e também distribuir guloseimas açucaradas no dia de São Cosme e São Damião tem mais significados do que se imagina. Além do caráter religioso, ainda cultivado por alguns, como retribuição pela graça do favor divino que alcançou com a intervenção dos santos gêmeos, por alguns instantes essa tradição popular devolve a alegria da infância a quem já embaçou o brilho dos olhos porque avançou no tempo ou endureceu o coração. Promove troca de olhares, de sentimentos, de esperanças, de emoções. Redime adultos e acalenta crianças, com promessas de respeito e dignidade.
Seja para os erês, para os ibejis ou para os anjos da guarda - em São João del-Rei a lembrança de São Cosme e São Damião se materializa no ciclo da festa de São Miguel e de outros arcanjos custódios. Ao povo são-joanense, todos guiam, protegem e defendem...
Texto e foto: Antonio Emilio da Costa
Sua visão acurada te permiti nos transmitir esta cultura de meandros, que passa despercebida de muitos. Parabéns prezado Emílio e que Cosme, Damião e Doum lhe abençoem!!!
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