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Mostrando postagens de 2023

Quarteto Del Rey. Flautistas de Hamelin no Natal de São João del-Rei

  Já faz alguns dias - se não me engano desde o começo da Novena de Natal - que o Menino Jesus desceu dos braços de Nossa Senhora do Rosário e não pode mais ser visto no altar-mor da igreja são-joanense que é sede da mais antiga Irmandade dos Homens Negros de Minas Gerais. Sobre isto, dizem que nestes nove dias ele sai em busca de si mesmo, se preparando para nascer outra vez, no  primeiro instante seguinte à meia-noite do dia 24 de dezembro, durante a Missa do Galo. Mas neste ano de 2023, às oito da noite do dia 21 de dezembro, ele deu uma pausa nesta sua introspecção e subiu a ladeira que leva à Capela do Divino Espírito Santo, encantado e embalado por um som sublime que fluía daquele alto. Era o "Concerto na Capella Especial de Natal", do Quarteto Del Rey. Quem já teve a felicidade de assistir a pelo menos um concerto do Quarteto Del Rey sabe que a beleza e a magia que emanam daqueles instrumentos e vozes são capazes de feitos fabulosos e extraordinários. Quase encantament

Antes do nada, São João del Rei já existia no útero das betas

  Algumas das mais importantes, originais, autênticas e atraentes riquezas históricas e turísticas de São João del-Rei não são valorizadas como tal e, salvo uma exceção, não estão disponíveis nem à mostra. Falo aqui das muitas betas existentes nas adjacências do centro histórico, remanescentes principalmente dos séculos XVIII e XIX. Antes do nada, São João del-Rei já existia no útero das betas, pronta para vir à luz no brilho do ouro. Não são muitas as cidades históricas brasileiras que possuem betas próximas às construções coloniais e que, por isso, podem enriquecer a experiência turística de quem as visita, conhecendo in loco os espaços e ambientes subterrâneos, criados há um, dois, três séculos, no afã de extrair ouro em abundância. Faz algum tempo (não muito, é verdade!) que uma beta, situada na Bica da Prata, teve reconhecido seu potencial histórico-turístico, e desde então vem atraindo os visitantes mais especificamente qualificados, que se interessam em conhecer mais do que as

São João del Rei na língua do povo: 50 ditados e expressões populares

 Na São João del-Rei de outrora, os ditados e expressões populares eram poderosos recursos de linguagem na comunicação informal. Nesta terra onde os sinos falam, a língua do povo falava muito estas curiosas, surrealistas e inusitadas expressões, muitas delas com cores e significados locais. Não são raros os são-joanenses, principalmente os mais vividos - para não dizer os mais antigos, ou, ainda, os mais velhos -, que ainda hoje, nas suas conversas cotidianas, usam estas enigmáticas expressões da sabedoria popular para: justificar ou reforçar opiniões pessoais ou de terceiros, transmitir conhecimento, alertar, aconselhar, advertir ou simplesmente colocar uma pitada de humor e tornar mais leve e lúdico um assunto, que muitas vezes é espinhoso, indesejável e indigesto. Com o tempo, muitos ditados populares foram se tornando menos propagados e, consequentemente, menos conhecidos e pouco transmitidos entre sucessivas gerações. Alguns chegaram muito perto do desaparecimento e hoje são menci

O Sagrado Rosário da cultura viva em São João del-Rei

  - São João del-Rei é uma cidade histórica, patrimônio cultural do povo brasileiro, certo? - Certo.  - São João del-Rei é um museu a céu aberto, certo? -  Não. Mas objetivamente isto não é bom nem ruim. É a realidade da cidade, fruto de sua própria história. E é a história que se escreve a si própria! - Como assim? - Nossa cidade se relaciona com seus bens materiais e imateriais a partir da dinâmica que é própria dos tempos atuais. Deste modo, tais bens deixam de ser coisa do passado para se tornar parte de um cotidiano em constante e espiral movimento. Analisando com objetividade, racionalidade e isenção, vemos que aqui, culturalmente, o passado não ficou congelado no passado, como em uma vitrine onde o tempo não passou. O passado em São João del-Rei não é uma representação, não pode ser descrito como "era uma vez". Ele continua vivo porque é revisitado e revivido, atualizado, como parte da vida dos são-joanenses, que são - eles próprios-, exclusivamente, os agentes e sujei

Todo dia é Sexta-Feira da Paixão em São João del Rei

  Quando o assunto é cultura, em seu sentido mais genuinamente antropológico, São João del-Rei é uma das cidades históricas brasileiras mais ricas e mais dinâmicas. Seu conjunto arquitetônico não é  uniforme nem homogêneo, mas o que isto importa? Seu casario de estilos diversos, característicos de sucessivas épocas, registra em si, como em nenhuma outra cidade histórica mineira, a passagem dos séculos com seus ciclos de evolução econômica, estética e social. Tão ou mais do que outras cidades surgidas no tempo do ouro, a cultura local é autêntica e peculiar, e mantém-se viva de modo natural e espontâneo. Tanto que, por não se pautar na realização de eventos de inspiração e motivação externa, para um público "estrangeiro", há quem diga, desavisadamente,  que em  São João del-Rei não se promove cultura. Mas dependendo do ponto de vista e do que se tem como cultura, quem pensa assim não está de todo errado, por uma razão muito simples: São João del-Rei " não vive de cultura

São João del-Rei persiste na "estranha mania de ter fé na vida!"

Quase nunca é um dia comum no centro histórico de São João del-Rei. Aliás, para ser mais exato, também quase nunca é uma noite comum no centro histórico de São João del-Rei. Basta ouvir os sinos de alguma das várias igrejas barrocas e sair pelas ruas e largos coloniais para ver que alguma coisa vai acontecer em breve. Se já não estiver acontecendo... Na verdade, nenhuma cidade histórica brasileira possui uma religiosidade tão forte e tão intensa quanto São João del-Rei e nem a vive no dia a dia, com tamanho entusiasmo e alegria. Aliás, sem falsa modéstia, com tamanho brilho e felicidade. É por isto que aqui os sinos falam e tudo é festa: Festa dos Passos, Festa do Espírito Santo, Festa do Carmo, da Boa Morte, das Mercês, Festa de São Benedito, do Bonfim, e tantas outras. O coroamento das Festas acontece sempre com uma (ou mais) grandiosa procissão. Não são raros os meses em que acontecem duas ou três, e até mais. Neste junho (2023), por exemplo, foram quatro, duas, inclusive, em uma ún

Milagres de Santo Antônio em São João del Rei

Santo Antônio é santo poderoso. Espantou o demõnio que amedrontava, ameaçava e atormentava uma enferma em seu leito de morte, conclamou e pregou para os peixes. Com poucas palavras convenceu um burro a ajoelhar-se diante da hóstia consagrada, recebeu nos braços o Menino Jesus e, em qualquer lugar do mundo, a qualquer hora do dia ou da noite, faz aparecer aos nossos olhos documentos e objetos, os mais variados, que se extraviaram ou que não estamos conseguindo encontrar. É só pedir que, não muito tempo depois, o que está sumido logo aparece. Em São João del-Rei, todo ano Santo Antonio faz um dia comum se tornar um intervalo de tempo terno e luminoso. Manso, sereno, fraterno, sublime e generoso, desde o amanhecer. Por sua graça, o dia se converte em um tempo de fartura, amor e paz. Basta ser 13 de junho. Se esta data cair em uma terça-feira, que é o dia da semana popularmente consagrado a Santo Antônio, o entusiasmo da vida, a alegria do espírito e a humanidade da alma ficam maiores aind

Céu e Terra dão-se as mãos na Semana Santa de São João Del Rei

Em São João del-Rei, a Quaresma não é apenas uma véspera de 40 dias dos feriados da Semana Santa. Para muitos são-joanenses, é uma experiência que se vivencia em um campo emocional, sentimental e transcendental, onde o divino e o humano se postam no mesmo plano, e em mútua compaixão. Isto é o que torna tão verdadeiras, genuínas, tradicionais e cultural-religiosamente ricas as memoráveis celebrações da Paixão de Cristo em São João del-Rei.  Das Vias Sacras às Encomendações de Almas, das rasouras às procissões, dos ofícios ao Te Deum Laudamus . Em tudo transparece a verdade absoluta de cada olhar que trocam entre si o humano e o sagrado. Do mesmo modo, cada gesto, cada ato, cada passo e cada palavra são contidos, cuidadosos, precisos, atentos, exatos, zelosos, respeitosos, responsáveis e delicados, como os de quem carrega, em suas mãos, lado a lado, 2 corações: o seu, próprio, e o de Jesus. Em todas as celebrações, o que, por sua perfeição e esmero, é encantadoramente espetacular, não fa

Se Deus não for brasileiro, pelo menos são-joanense ele é. Com toda certeza!

  Suspeitam que Deus é brasileiro, mas de uma coisa eu tenho certeza: se não for desta Terra de Santa Cruz, pelo menos são-joanense ele é. Afinal, quem foi que espelhou o Céu nas igrejas barrocas de São João del-Rei e faz repetir aqui, todo ano, desde o alvorecer do século 18, tradições que nos levam a sonhar e viver, neste mundo, ainda vivos, momentos serenos e sublimes da maravilha que deve ser a vida no Paraíso? Mas cuidar para que tudo isso aconteça - cuidar até mesmo dos mais imperceptíveis detalhes - não é missão fácil. Muito pelo contrário.  Requer desejo, competência, entrega, esforço, empenho e dedicação. Ainda mais quando esta missão é desenvolvida articuladamente com outras importantes responsabilidades paroquiais, em uma realidade mundial áspera e complexa, como é para todos a de nossos dias. Foi por isto que o Senhor, demonstrando seu amor pelo povo são-joanense, há uns bons anos entregou esta missão aos cuidados do padre Geraldo Magela da Silva. Aquele que, mesmo já t

Milagre no longo e sagrado caminho da Paixão em São João del Rei

  Longo e sagrado é o caminho da Paixão de Cristo em São João del-Rei. Para percorrê-lo, é preciso mais de 40 dias e incontáveis horas, em que os são-joanenses, contritos e saudosos, refletem, rezam e cantam em memória das angústias, flagelos, humilhações e sofrimentos que há 2 mil anos culminaram no Monte Calvário, com a crucificação e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.   Este ritual de memória, tradição e fé se cumpre através das Vias Sacras e das Encomendações de Almas, que são realizadas há quase 3 séculos em nossa cidade, da Quarta Feira de Cinzas até a Terça Feira da Semana Santa, véspera da Quarta Feira de Trevas. Talvez não seja errado pensar que pelo menos parte deste exercício religioso tenha se iniciado antes, e quem sabe até mesmo demandado, a criação da Irmandade dos Passos são-joanense, que foi instituída em 1733, ou seja, há exatos 290 anos. As Vias Sacras são diárias, em sua maioria acontecem dentro das igrejas barrocas do centro histórico, promovidas pelas irmandades,

Festa no céu em São João del Rei

Os anjos da portada da igreja do Carmo, em São João del-Rei, estão em festa, pois agora eles podem brincar de roda novamente. Desde outubro de 2018, a roda angelical não fechava em volta da Virgem com o Menino, pois um anjo teve o braço esquerdo derrubado e quebrado, pelo ato condenável de um desventurado estudante universitário, na madrugada do último sábado daquele mês.  Passaram-se quase 5 anos, mas agora o anjo está completo de novo, perfeito, do mesmo jeito que lhe fez o Criador. Março chegou iluminado e, logo no segundo dia, o anjo que tinha sido vítima do atentado que lhe causou uma amputação no ombro esquerdo, recebeu de novo o seu braço restaurado, inclusive com o divino escapulário, que pende daquela sua mão. E não foi por milagre. Foi por aguerrido  empenho da Ordem Terceira do Carmo e atuação de alguns órgãos municipais relacionados ao patrimônio cultural da cidade. Assim como o incidente - que representou um atentado grave a um bem que é tombado como patrimônio cultural br

Em São João del-Rei, mistérios não são secretos. São encantamentos!

São João del-Rei é uma caixa de surpresas. Muitas vezes do nada, quando menos se espera, num lugar que sequer se imagina,  a gente depara com algo extraordinário, que chama nossa atenção, interrompe nosso caminhar e desvia nosso pensamento, de tão inusitado que é. Em geral são cenas, fatos, objetos e situações culturais que nos falam do modo de viver, de sentir, pensar e agir dos são-joanenses. Quase sempre são temas que perpassam a religiosidade, a crença, o passado, os afetos e o intangível. Quem se atenta, observa e analisa estas situações, com certeza passa a entender melhor que certezas, sonhos e esperanças povoam a alma do povo deste lugar. Um destes momentos mágicos acontece todo ano, nas ruas e largos do centro histórico, na semana entre o Natal e o Ano Novo. Não há quem não se surpreenda e se encante com as folias de reis "contemporâneas" que, entre igrejas, pontes e casarões, dão cor e ainda mais vida ao coração de São João del-Rei. Vindas de Juiz de Fora, que é sua