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São João del Rei na língua do povo: 50 ditados e expressões populares


 Na São João del-Rei de outrora, os ditados e expressões populares eram poderosos recursos de linguagem na comunicação informal. Nesta terra onde os sinos falam, a língua do povo falava muito estas curiosas, surrealistas e inusitadas expressões, muitas delas com cores e significados locais. Não são raros os são-joanenses, principalmente os mais vividos - para não dizer os mais antigos, ou, ainda, os mais velhos -, que ainda hoje, nas suas conversas cotidianas, usam estas enigmáticas expressões da sabedoria popular para: justificar ou reforçar opiniões pessoais ou de terceiros, transmitir conhecimento, alertar, aconselhar, advertir ou simplesmente colocar uma pitada de humor e tornar mais leve e lúdico um assunto, que muitas vezes é espinhoso, indesejável e indigesto.

Com o tempo, muitos ditados populares foram se tornando menos propagados e, consequentemente, menos conhecidos e pouco transmitidos entre sucessivas gerações. Alguns chegaram muito perto do desaparecimento e hoje são mencionados raramente e com saudade, entre pessoas que os aprenderam ou que conhecem seu significado ou os elementos figurativos, situações reais ou imaginárias e fatos que são utilizados na construção daquela quase descabida mensagem. 

Resgatá-los seria uma importante contribuição para enriquecimento ainda maior de nossa cultura popular, bem como - na perspectiva revelada pelo estudo deste linguajar - conhecer valores, princípios, referências de mundo, espaço, tempo e lugar que eram transmitidos pelos ditados e expressões populares na São João del-Rei daqueles tempos.

E por falar nisso, você conhece e sabe o que significam estes curiosos ditados populares? Se você souber de outros, por favor, mande nos comentários deste post que, se pertinentes e adequados a esta proposta, eles serão inseridos neste texto, mencionando que é sua contribuição. Vamos lá?

. Acabou a galinha, acabou o resguardo - dependência condicionante, em geral relacionada a finanças / provimento 

. Morreu o afilhado, acabou o cumpradesco - sem interesse em comum não há união ou vínculo

. Como se toca, se dança - ação e reação

. Colocar  / enfiar a viola no saco - aceitar a derrota. Reconhecer a insignificância.

. Fé em deus e pé na trava - coragem audaciosa

. Onde quebrou o pote procura a rodilha - solucionar junto à origem da questão

. Onde o galo canta, ele janta - sentidos diversos, em especial a relação direta: esforço / prestígio / poder  - recompensa / sustentação

. Onça quando tá com fome come capim - adaptar-se às condições, sujeitar-se ao meio

. Comer couve (com angu) e arrotar lombo - exibicionismo mentiroso

. Debaixo desse angu tem carne - indica suspeita de que há algo não revelado, de que há segunda intenção, verdade incompleta e duvidosa, disfarce de intenção suspeita

. Angu de caroço - coisa ou situação complicada, confusa, embaraçada ou embaraçosa

. (...) feijão no fogo - (aconteceu algo mas) a vida continua! Vamos em frente! Toca o barco!

. Sua alma, sua palma - advertência sobre a auto responsabilização. Você que sabe!

. Rezar a missa melhor do que o vigário - pretensão de fazer melhor do que o realmente capacitado

. Despir um santo para vestir outro - solução paliativa

. Pica o fumo e caça o rumo - ordem firme para ir embora já

. Pica a mula - Dê o fora! Saia logo!

. Pira fora - (saia) fora daqui!

. Fedendo a chifre queimado - sinal de confusão a caminho, prenúncio intuitivo de conflito

. Cada qual com sua luz e sua cruz - individualidade e subjetividade

. Urubu da asa caída - pessoa desanimada, sem força nem presença

. Meia pataca - mediano, medíocre, comum, ordinário

. Arroz-doce sem canela - pessoa sem graça, inexpressiva

. Cheio de rapa-pé - algo ou alguém cerimonioso demais, detalhista / detalhado, prolixo.

. Do chifre furado - pessoa destemida, corajosa, impulsiva

. Do cu riscado - pessoa teimosa, desabusada, destemida, audaciosa

. Macaco que muito pula quer chumbo - advertência para pessoa muito vaidosa, exibida, que se super expõe 

. Macaco esperto não põe a mão na cumbuca - pessoa cautelosa, prudente, consequente, 

. Cachorro mordido por cobra tem medo de linguiça - apreensão e medo, consequente de lembrança ou semelhança com experiência negativa anterior

. Gato escaldado de água quente tem medo de água fria - mesmo significado do ditado popular anterior

. Gato escaldado - pessoa experiente, sábia pelo que já viveu

. Café no papo, rua sapo - prenúncio da despedida, depois do café, refeição ou lanche

. Colocar sal em carne podre - tentar remediar o irremediável, investir em vão

. Jogar (ou botar) água no fogo (ou na fogueira ou na fervura) - encerrar ali o assunto, e até a conversa / discussão, interromper definitivamente, por um ponto final

. Rasgar a chita - falar a verdade cruamente, e quase sempre de modo rude ou inesperado, quando provocado ou em defesa própria

. Que me importa me lá - indiferença às consequências - não tô nem aí, não quero nem saber

. Quando a cabeça não dá, o corpo é que padece - consequência de atos irracionais, negligentes, inconsequentes, irrefletidos 

. Não dá ponto sem nó - não faz nada sem interesse, age sempre com segunda intenção

. Lambendo embira - diz-se de alguém que está na miséria, financeiramente em situação difícil e precária, sem o mínimo recurso

. Quando a esmola é muita (ou grande), o santo logo desconfia - perspicácia para identificar situações suspeitas, recomendação de prudência, cautela

. Trupica e cai, levanta e sai. Morena bonita, cadê seu pai? -  dizer lúdico, para humorizar o constrangimento de um tropeço e queda

. Se afumente pra lá - vá resolver isso longe daqui. O mesmo que "onde quebrou o pote procure a rodilha

. Ver com os olhos e pegar com a testa - olhar mas não tocar

. Entornar o caldo - Colocar tudo a perder por atitude intempestiva, em geral grosseiramente

. Azedar o leite - mesmo sentido da expressão popular anterior

. Espalhar as brasas - idem

. Derramar o fubá - idem expressões populares anteriores

. Acender vela para mau defunto - Ação inútil, sem resultado, causa perdida

. Defunto, quando acha alguém que carrega, quer até que balance - explorador da boa vontade e da ingenuidade alheia

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Texto e foto - Antonio Emilio da Costa

Informantes: Carmen Trindade da Costa e Conceição de Assis Santos

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