Algumas das mais importantes, originais, autênticas e atraentes riquezas históricas e turísticas de São João del-Rei não são valorizadas como tal e, salvo uma exceção, não estão disponíveis nem à mostra. Falo aqui das muitas betas existentes nas adjacências do centro histórico, remanescentes principalmente dos séculos XVIII e XIX. Antes do nada, São João del-Rei já existia no útero das betas, pronta para vir à luz no brilho do ouro.
Não são muitas as cidades históricas brasileiras que possuem betas próximas às construções coloniais e que, por isso, podem enriquecer a experiência turística de quem as visita, conhecendo in loco os espaços e ambientes subterrâneos, criados há um, dois, três séculos, no afã de extrair ouro em abundância.
Faz algum tempo (não muito, é verdade!) que uma beta, situada na Bica da Prata, teve reconhecido seu potencial histórico-turístico, e desde então vem atraindo os visitantes mais especificamente qualificados, que se interessam em conhecer mais do que as belas igrejas, museus, becos e largos coloniais e imperiais de nossa tricentenária cidade. Todos se surpreendem, são impactados e se impressionam ao descer mais de 50 metros pedra adentro para conhecê-la - testemunha que é da história que não consta dos livros escolares.
Mas quantos são-joanenses, nativos e viventes nesta terra, sabem da existência destas betas, e o que elas significam na história deles próprios? Quantos sabem o que elas representam tanto como fator de elevada autoestima cidadã quanto como um bem que pode gerar emprego e renda por meio da atividade turística? No mundo atual, locais turísticos podem ser os novos Eldorados, se assim forem vistos e se desta forma forem administrados e tratados.
Há alguns meses, em uma excursão escolar turística vinda de outra cidade mineira, um aluno teve a sorte de enxergar, no veio aurífero, uma pequena pepita de ouro na beta da Bica da Prata. Sorte mesmo, dele e de todos que estavam naquela imersão, pois aquele achado permitiu à toda aquela turma de adolescentes reviver, no século XXI, a emoção que viviam os mineradores no século XVIII, quando encontravam a dourada riqueza. Para estes estudantes, naquele dia, a história saiu dos livros e ganhou vida. Transmutou-se de informação retrocessa, abstrata e imaginária em realidade vivenciada. À vista deles, o passado corporificou-se no presente.
Ninguém nasce sabendo, é verdade, mas quem sabe tem a responsabilidade ética de compartilhar o que sabe, ainda mais quando o objeto do conhecimento e do saber é um bem coletivo, um patrimônio de todos, que é a história daquele povo e daquele lugar.
Compartilhar conhecimento, é compartilhar saber, mas é também compartilhar responsabilidade, compromisso e cumplicidade no zelo e na preservação do que é a história e o patrimônio de todos. Poucos cuidam do que não conhecem, do que não sabem nem reconhecem o valor, do que não lhes pertence ou lhes diz respeito.
Se quisermos preservar São João del-Rei - não apenas o que a cidade possui de diversos tempos do passado, mas abrir os olhos para um futuro sustentável de auto estima e afeto cidadão para a história individual e coletiva - compartilhemos, irrestritamente e sem distinção, o que a cidade tem, o que a cidade é, o que a cidade pode ser e pode ter.
No tempo de agora, mundo sem fronteiras, guardar é compartilhar. Perpetuar é difundir infinitamente, transmitindo a todos a informação, o conhecimento, o saber e o pertencimento, para que sejam repassados como uma tocha olímpica de amor pela história e pela cultura, superando e transcendendo eras e gerações.
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Foto e texto - Antonio Emilio da Costa
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