Santo Antônio é santo poderoso. Espantou o demõnio que amedrontava, ameaçava e atormentava uma enferma em seu leito de morte, conclamou e pregou para os peixes. Com poucas palavras convenceu um burro a ajoelhar-se diante da hóstia consagrada, recebeu nos braços o Menino Jesus e, em qualquer lugar do mundo, a qualquer hora do dia ou da noite, faz aparecer aos nossos olhos documentos e objetos, os mais variados, que se extraviaram ou que não estamos conseguindo encontrar. É só pedir que, não muito tempo depois, o que está sumido logo aparece.
Em São João del-Rei, todo ano Santo Antonio faz um dia comum se tornar um intervalo de tempo terno e luminoso. Manso, sereno, fraterno, sublime e generoso, desde o amanhecer. Por sua graça, o dia se converte em um tempo de fartura, amor e paz. Basta ser 13 de junho. Se esta data cair em uma terça-feira, que é o dia da semana popularmente consagrado a Santo Antônio, o entusiasmo da vida, a alegria do espírito e a humanidade da alma ficam maiores ainda.
Pensando bem, deve ter sido Santo Antônio que abriu e guarda os caminhos de São João del-Rei. Tanto é assim que o primitivo caminho dos bandeirantes foi oficializado como Rua Santo Antônio, que começa atrás da igreja do Rosário e termina na Ponte das Águas Ferreas. Há algumas décadas conhecida como "rua das casas tortas", é uma das mais antigas, a mais poética e a mais musical via urbana de nossa cidade. Nela, além de Santo Antônio, também moram a Banda Theodoro de Faria e as bicentenárias orquestras Lira Sanjoanense e Ribeiro Bastos, assim como ali também funcionam um ateliê de esculturas sacras e uma luteria, de onde saem calvários, crucificados, santos, anjos e instrumentos musicais.
Mas voltando ao dia consagrado a Santo Antonio, em São João del-Rei, na metade da manhã do dia 13, é celebrada uma missa solene em sua singela e delicada capelinha. Em várias partes, a Orquestra Lira Sanjoanense executa um repertório suave e matinal, como o lírio branco que o santo jovem traz em sua mão direita, por sobre a cruz. Lírio branco e cruz, certamente, além da pureza e da fé, também simbolizam o destino do Menino Jesus, que Santo Antônio carrega em seu outro braço.
Na terça-feira, 13 de junho de 2023, a missa foi mais encantadora ainda, do que seguramente, ano após ano, é. Os fiéis, de todas as idades, de todas as cores, de todas as condições sociais, educacionais e econômicas não couberam na capelinha e se abrigaram debaixo do imenso céu azul, iluminado pelos raios de um sol que já está partindo do outono severo para o inverno rigoroso de São João del-Rei.
Mas o encanto maior não vinha da música, das flores do altar, nem do céu azul. O encanto maior vinha do olhar amoroso e inocente, do silencio interessado, dos gestos frágeis e movimentos delicados das crianças de 2 ou 3 anos, cerca de 40, que, levadas pela Creche SACE, tornaram ainda mais sublime e significativa aquela celebração religiosa.
De tão terno, o agradecimento que o celebrante, Padre Geraldo Magela, fez individualmente a cada uma delas, por exemplo, nos levou a imaginar o sentimento que Santo Antônio dedicou aos peixes, quando lhes contou sobre as maravilhas do Amor de Deus e sobre o perfume que têm as flores de esperança, afeto e compaixão.
O encontro humano, de uma manhã tão divina, não poderia terminar de outro jeito: a distribuição do pão de Santo Antônio, com seus todos significados, mas sobretudo com o que ele deve representar no comprometimento de todos com o combate à fome, que é fruto da desigualdade. Não apenas a fome de alimento, mas também a fome de justiça, a fome de respeito, a fome de verdade, a fome de generosidade, a fome de compaixão, a fome de nós mesmos, entre tantas outras.
Santo Antônio é santo poderoso. Ele há de nos ajudar a encontrar o caminho perdido, a esperança perdida, a fé em si próprio; a fé em Deus, no mundo e na vida!
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Texto e foto: Antonio Emilio da Costa
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