Pular para o conteúdo principal

Quarteto Del Rey. Flautistas de Hamelin no Natal de São João del-Rei

 


Já faz alguns dias - se não me engano desde o começo da Novena de Natal - que o Menino Jesus desceu dos braços de Nossa Senhora do Rosário e não pode mais ser visto no altar-mor da igreja são-joanense que é sede da mais antiga Irmandade dos Homens Negros de Minas Gerais. Sobre isto, dizem que nestes nove dias ele sai em busca de si mesmo, se preparando para nascer outra vez, no  primeiro instante seguinte à meia-noite do dia 24 de dezembro, durante a Missa do Galo.

Mas neste ano de 2023, às oito da noite do dia 21 de dezembro, ele deu uma pausa nesta sua introspecção e subiu a ladeira que leva à Capela do Divino Espírito Santo, encantado e embalado por um som sublime que fluía daquele alto. Era o "Concerto na Capella Especial de Natal", do Quarteto Del Rey.

Quem já teve a felicidade de assistir a pelo menos um concerto do Quarteto Del Rey sabe que a beleza e a magia que emanam daqueles instrumentos e vozes são capazes de feitos fabulosos e extraordinários. Quase encantamento surrealista. Realizados principalmente na majestade das belas igrejas barrocas de São João del-Rei, muitas vezes tendo por fundo o dobrar e repicar espontâneo dos sinos são-joanenses, os concertos tornam aqueles espaços e ambientes sagrados ainda mais sublimes. E, também, naqueles instantes, a vida de quem, extasiado, ali está.

Os músicos do Quarteto Del Rey, bem como os músicos convidados, repetem a cada concerto, na realidade, o que O Flautista de Hamelin fazia na imaginação das crianças mineiras que, na metade do século passado, estudavam no grupo escolar o livro As Mais Belas Histórias. 

O flautista, simplesmente com o som maravilhoso de sua flauta, tinha o poder de atrair para si e levar, para onde quisesse, quem o ouvisse. Conta o conto que numa certa noite de Natal, ele devolveu à cidade de Hamelin a alegria e a infância, trazendo de volta as crianças que um dia o haviam seguido para longe, encantadas pelo tocar de sua flauta.

Neste Concerto de Natal 2023, na Capela do Divino Espírito Santo, foi isto o que fizeram os músicos do Quarteto Del Rey: arrebataram, encantaram e divinizaram todos nós que estávamos ali. E também o Menino Jesus, filho de Nossa Senhora do Rosário, que a poucos dias de seu novo Natal subiu a ladeira e veio até o alto, para comungar conosco as maravilhas da música, dos instrumentos e das vozes - mensageiros da mansidão, da paz, da esperança e da humanidade.

..............................

Texto e foto - Antonio Emilio da Costa

Parabéns, Quarteto Del Rey!




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Debaixo de São João del-Rei, existe uma São João del-Rei subterrânea que ninguém conhece.

Debaixo de São João del-Rei existe uma outra São João del-Rei. Subterrânea, de pedra, cheia de ruas, travessas e becos, abertos por escravos no subsolo são-joanense no século XVIII, ao mesmo tempo em que construíam as igrejas de ouro e as pontes de pedra. A esta cidade ainda ora oculta se chega por 20 betas de grande profundidade, cavadas na rocha terra adentro há certos 300 anos.  Elas se comunicam por meio de longas, estreitas e escuras galerias - veias  e umbigo do ventre mineral de onde se extraíu, durante dois séculos, o metal dourado que valia mais do que o sol. Não se tem notícia de outra cidade de Minas que tenha igual patrimônio debaixo de seu visível patrimônio. Por isto, quando estas betas tiverem sido limpas e tratadas como um bem histórico, darão a São João del-Rei um atrativo turístico que será único, no Brasil e no mundo. Atualmente, uma beta, nas imediações do centro histórico, já pode ser visitada e percorrida. Faltam outras 19, já mapeadas, dependendo da sensi

Em São João del-Rei não se duvida: há 250 anos, Tiradentes bem andou pela Rua da Cachaça...

As ruas do centro histórico de São João del-Rei são tão antigas que muitas delas são citadas em documentos datados das primeiras décadas do século XVIII. Salvo poucas exceções, mantiveram seu traçado original, o que permite compreender como era o centro urbano são-joanense logo que o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes tornou-se Vila de São João del-Rei. O Largo do Rosário, por exemplo, atual Praça Embaixador Gastão da Cunha, surgiu antes mesmo de 1719, pois naquele ano foi benta a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, nele situada e que originalmente lhe deu nome. Também neste ano já existia o Largo da Câmara, hoje, Praça Francisco Neves, conforme registro da compra de imóveis naquele local, para abrigar a sede da Câmara de São João del-Rei. A Rua Resende Costa, que liga o Largo do Carmo ao Largo da Cruz, antigamente chamava-se Rua São Miguel e, em 1727, tinha lojas legalizadas, funcionando com autorização fornecida pelo Senado da Câmara daquela Vila colonial.  Por

Padre José Maria Xavier, nascido em São João del-Rei, tinha na testa a estrela da música barroca oitocentista

 Certamente, há quase duzentos anos , ninguém ouviu quando um coro de anjos cantou sobre São João del-Rei. Anunciava que, no dia 23 de agosto de 1819, numa esquina da Rua Santo Antônio, nasceria uma criança mulata, trazendo nas linhas das mãos um destino brilhante: ser um dos grandes - senão o maior - músico colonial mineiro do século XIX . Pouco mais de um mês de nascido, no dia 27 de setembro, (consagrado a São Cosme e São Damião) em cerimônia na Matriz do Pilar, o infante foi batizado com o nome  José Maria Xavier . Ainda na infância, o menino mostrou gosto e vocação para música. Primeiro nos estudos de solfejo, com seu tio, Francisco de Paula Miranda, e, em seguida dominando o violino e o clarinete. Da infância para a adolescência, da música para o estudo das linguas, José Maria aprendeu Latim e Francês, complementando os estudos com História, Geografia e Filosofia. Tão consistente era seu conhecimento que necessitou de apenas um ano para cursar Teologia em Mariana . Assim, j