15 de agosto é um dos dias mais sublimes e gloriosos em São João del-Rei. Nele, todo ano, a Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte promove solenes celebrações para lembrar a assunção de Nossa Senhora aos Céus e, lá, sua coroação pelas três pessoas da Santíssima Trindade: Deus Pai, com seu áureo cetro; Deus Filho, com sua emblemática cruz, e Deus Espírito Santo - pomba de prata resplandescendo seus raios dourados.
Nem bem amanhece e os sinos da Matriz do Pilar repicam e dobram anunciando "A Senhora é Morta". Na metade da manhã, começa uma missa barroca, toda cantada em latim, que tem no canto do Glória o grande momento: os sinos tocam alegres, foguetes estouram ruidosos e, no altar dourado, Nossa Senhora da Assunção surge subindo ao Céu, pé direito amparado sobre uma lua crescente, de prata. Tal qual na estória de Cinderela, ela está descalça de seus sapatinhos de seda. Bordados a fio de ouro e pedras brilhantes, estão caídos no imaginário e aéreo caminho.
No entardecer, a celebração ganha as ruas. Uma grande e lenta procissão, saída do século XVIII, desce a escadaria da Matriz e toma rumo ao Largo do Rosário, de onde seguirá por um caminho de pontes de pedra e ruas tortas, que mais parece um arabesco colonial. As opas coloridas das irmandades tremulam à luz das tochas, dando mais cor e movimento à festa setecentista. A banda toca marchas compostas para a ocasião e o coro da Orquestra Lira Sanjoanense, tal qual um coral de anjos maduros e mulatos, canta motetos longínquos, `a frente dos dois andores. Onde termina o mundo e começa o Céu?
Em São João del-Rei ainda é assim. Tal como era há trezentos anos. Se Deus quiser, tal como será "per ómnia saecula saeculorum!"
http://www.youtube.com/watch?v=6adyCiBLoek - Esta peça, de autoria do grande compositor barroco capitão Manoel Dias de Oliveira, aqui cantada pelo coro da Orquestra Lira Sanjoanense, integra o repertório da Festa da Boa Morte de São João del-Rei.
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