Sempre que se realiza em São João del-Rei alguma das muitas festas religiosas que fazem parte do calendário litúrgico local, reforça-se uma certeza: não existe, em nenhum lugar do mundo, outra cidade que preserve e mantenha, com tanta fidelidade, suas barrocas tradições religiosas como a "terra onde os sinos falam". Nem que tenha cerimônias e solenidades tão ricas, complexas e sofisticadas, inclusive com repertório barroco próprio, composto e executado por músicos e maestros locais. A Festa de Passos, a Semana Santa e a Festa da Boa Morte são bons exemplos.
Mesmo obedecendo rituais e liturgias dos séculos XVIII e XIX - já abolidos ou extintos em outras cidades - estas festas são tradições vivas, plenamente integradas ao cotidiano são-joanense contemporâneo, como elemento religioso, social e cultural. Daí se perpetuarem por quase trezentos anos sempre atuais, como, patrimônio pessoal, sentimental e afetivo do homem são-joanense e patrimônio cultural do povo deste lugar.
Se temos consciência e reconhecemos este valor, por que não busquemos registrar as Tradições Religiosas de São João del-Rei como Patrimônio Imaterial Brasileiro? Seria um belo e justo presente para a cidade, pelos 300 anos de criação da Vila de São João del-Rei. Isto é possível e só depende do interesse e da mobilização conjunta do segmento religioso católico (diocese, paróquias, irmandades) com organizações culturais diversas e com o poder público local. Em pouco tempo as tradições culturais podem ser declaradas patrimônio imaterial de São João del-Rei, dando-se, assim, o primeiro passo rumo ao reconhecimento estadual e nacional.
Material para isto não falta. É infinito o número de históricos registros textuais, sonoros, impressos, fotográficos e videográficos que documentam as bicentenárias celebrações e festas religiosas de São João del-Rei. Esta quantidade aumenta a cada dia, com a produção espontânea e voluntária de fotógrafos e videomakers, profissionais e amadores, bem como de escritores e jornalistas.
Unidos os vários setores são-joanenses pelo mesmo interesse coletivo, basta que se pesquise, localize, relacione e reproduza o material documental existente sobre as tradições religiosas de São João del-Rei, complementando-o com entrevistas e informações exigidas pelo Ministério da Cultura, formando o processo para reconhecimento e inscrição como Patrimônio Imaterial Brasileiro. Entidades religiosas, culturais, públicas e privadas, civis e religiosas dedicadas ou relacionadas com esta questão - com o apoio e a participação da comunidade - bem poderiam se mobilizar neste sentido...
Veja, no vídeo abaixo, um excelente argumento para esta sugestão.
A festa da Boa Morte além de ser uma das festas mais bonitas do calendário litúrgico de São João del-Rei, tem o toque dos sinos que só ocorre uma vez ao ano, é uma pérola sonora que emana das torres.Os sinos da Irmandade da Boa Morte marcam com extraordinária beleza a velha urbe mineira.
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