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Felit 2012. Em São João del-Rei, a literatura faz parte da vida. E também da morte...


Em mais um setembro São João del-Rei realizará, este ano nos dias 27, 28 e 29, o seu Festival Literário -Felit 2012. Letras, livros, versos, poemas, escrituras, sílabas, rimas, rítmos, estrofes, palavras.

Palavras? As palavras só dizem aquilo que já se sabe. Algo mais ou menos assim, me lembro, escreveu em um poema Adélia Prado.

Adélia Prado? Isto mesmo. A grande escritora brasileira, que nasceu em Divinópolis e foi universalizada pela poesia, será a homenageada da Felit 2012, que terá a graça de sua presença. Palestras, encenações, cortejos, café literário - tudo versará sobre a obra de Adélia, inclusive gastronomia.

E por falar em gastronomia, a cozinha de Minas, como tema central ou como elemento de um cenário, está presente em vários poemas do livro Poesia Reunida, lançado em 1991 pela Editora Siciliano. Com sabor de lembrança, de infância e do nunca mais, quase pode ser comida em muitos versos. Este livro, inclusive, foi um dos principais orientadores do argumento cozinha mineira: identidade, memória e territorialidade, apresentado e refletido na monografia Nem só de pão (de queijo) vive o homem, produzida por este autor em 2009 e que pode ser acessada em http://bdm.bce.unb.br/bitstream/10483/994/1/2009_AntonioEmilioCosta.pdf


Peço licença a Adélia Prado e reproduzo abaixo um poema que dedico a meu pai, Geraldo Sebastião da Costa, no Cemitério do Carmo, saudade e memória. Chama-se Leitura.

                    Era um quintal ensombrado, murado alto de pedras.
                    As macieiras tinham maçãs temporãs,
                    a casca vermelha de escuríssimo vinho,
                    o gosto caprichado das coisas
                    fora do seu tempo desejadas.
                    Ao longo do muro eram talhas de barro.
                    Eu comia maçãs, bebia a melhor água,
                    sabendo que lá fora o mundo havia parado de calor.

                    Depois encontrei meu pai que me fez festa
                    e não estava doente e nem tinha morrido,
                    por isso ria, os lábios de novo
                    e a cara circulados de sangue,
                    caçava o que fazer para gastar sua alegria:
                    onde está meu formão, minha vara de pescar,
                    cadê minha binga, meu vidro de café?

                     Eu sempre sonho que uma coisa gera,
                     nunca nada está morto.
                     O que parece sem vida, aduba.
                     O que parece estático, espera.

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