Uma rua estreita, sinuosa, com subida e descida, no centro
da cidade, tendo na metade uma pedreira angulosa e no alto dela um cruzeiro
bicentenário, erguido no tempo em que mulas sem cabeça corriam noturnas a horas
ermas e mortas, aterrorizando a todos com suas línguas de fogo.
Talvez, superando interrupções, uma continuidade da Rua
Santo Antônio – caminho dos bandeirantes, escravos, libertos e aventureiros, no
alvorecer do século XVIII, atravessando a Vila de Nossa Senhora do Pilar do Rio
das Mortes rumo à Rua do Fogo e à Rua do Barro Vermelho.
Paralelo a uma ponta da avenida principal, o lugar foi
batizado com um nome estranho, que os índios tupis falavam para referir-se a uma
árvore de grandes e polpudas vagens. No seu começo, tem um alto muro de arrimo
de pedras aparentes que em certas épocas do ano mais parece uma cascata de
samambaias, musgos e liquens. No seu final, uma cruz alta, fina e simples, fincada em uma pequena
pedra, sem os estigmas mas com a tabuleta J.N.R.J., permanentemente enfeitada com flores de
plástico coloridas. Ao seu pé, ora às segundas-feiras, ora às sextas-feiras, às
três da tarde as mulheres rezam o terço. Ali também para e canta, na Quaresma, a Encomendação de Almas que sobe do Quicumbi.
De lá se ouve bem o toque dos sinos,
o apito da maria fumaça, a sirene da
fábrica, e até se vê, bem escuras, as nuvens de fumaça e cheiro de óleo
queimado que o trem de ferro suspira. Nas duas cruzes daquele caminho param, rezam e cantam, na meia-noite de uma sexta-feira da Quaresma, a Encomendação de Almas que sobe do Quicumbi.
- Que lugar é este; ele existe de verdade?
- Existe, é o Pau d’angá!
Hoje nem sempre o chamam assim. Sem a natural espontaneidade,
foi denominado Rua Carvalho de Resende. Mulas sem cabeça, não tem mais. Ali,
noite e dia, o medo agora é outro. Caminhante daquela via, o professor, escritor
e poeta Hélio da Conceição Silva, assim o manifesta, especialmente para este
Almanaque Eletrônico:
“ Modesto de
Paiva escreveu
sobre as
assombrações
que rondavam
o Pau D’Angá.
Mas hoje o
que de fato assombra
Quem passa
por lá
Rua Carvalho
de Resende
Que é o nome
do lugar
É a velocidade
excessiva
Dos muitos
automotores
Que trafegam
por lá!”
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