Pular para o conteúdo principal

As coisas boas de São João del-Rei 10 - Barteliê: o que você não espera, ali espera por você!



Em São João del-Rei tem uma via que começa no século XVIII e leva gente, jovem e sorridente, do século presente,  aos anos setenta do século que ficou para trás. Tudo atravessando as três portas do Barteliê. Assim como o nome é uma mistura inusitada das palavras Bar e Ateliê, a proposta artístico-etílico-gastronômico-musical também é ousada: um bar fundido com uma galeria de arte e artesanato, onde se ouve a música que ninguém espera. Jazz, blues, mpb, chorinho, samba, clássicos, grandes nomes, inéditos, desconhecidos, alternativos, música autoral. Tudo cabe no Barteliê.

Bob Dylan, Janis Joplin, James Taylor, Joan Baez, Beatles, Egberto Gismonti, Sivuca, Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Tropicália, Clube da Esquina, Samba, Forró: Tudo a seu dia se ouve no Barteliê. Melhor dizendo, tudo à sua noite, pois o bar sempre abre quando o sol se esconde.

Aquela rua, outrora, foi mal-afamada, mal-dita, de tanto que nela moravam o prazer, a alegria e a diversão, amamentados por mulheres risonhas, morenas de cabelos longos, largos, fartos e fundos decotes nos vestidos estampados de colorido forte como o perfume que usavam no cair da noite. Mulheres e perfumes damas da noite...

O tempo passou, as mulheres se foram, a rua caiu em decadência, quase virou ruína. Mas aos poucos está recuperando seu vigor e gosto; a alegria, a diversão e o espírito de festa de novo nela estão fazendo morada, nutridos pelo sereno da noite e pela seiva da arte. Principalmente da música.

Aquela que antes se chamou Rua da Cachaça ainda hoje guarda o antigo nome, mas agora é também a rua do vinho e da cerveja. Entretanto, a aguardente ali ainda reina soberana. afinal, quem foi rei sempre será majestade...

O Barteliê é lugar de todos, território para todos, menos para gente metida a besta. Tudo ali é tão espontâneo, jovial e viçoso que não há lugar para não-me-toques, você sabe com quem está falando e tais. Mas todo mundo sabe com quem está falando e, por isto, educação e respeito é o que não faltam. Por favor, obrigado, pois não, com licença o tempo todo se ouve, inclusive entre os passos e os bailados que movimentam os jovens na rua de paralelepípedos, quando é impossível resistir à sedução que vem da música tocada ao vivo.

........................................................................................
Texto: Antonio Emilio da Costa
Foto: Barteliê


Comentários

  1. Excelente texto, Emílio! Além da vontade instantânea de conhecer o buteco (como carinhosamente chamamos os bons bares lá em Pitangui) o local me remete à boemia no Bairro Alto, lá em Lisboa. Ora pois.

    Léo Morato.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Debaixo de São João del-Rei, existe uma São João del-Rei subterrânea que ninguém conhece.

Debaixo de São João del-Rei existe uma outra São João del-Rei. Subterrânea, de pedra, cheia de ruas, travessas e becos, abertos por escravos no subsolo são-joanense no século XVIII, ao mesmo tempo em que construíam as igrejas de ouro e as pontes de pedra. A esta cidade ainda ora oculta se chega por 20 betas de grande profundidade, cavadas na rocha terra adentro há certos 300 anos.  Elas se comunicam por meio de longas, estreitas e escuras galerias - veias  e umbigo do ventre mineral de onde se extraíu, durante dois séculos, o metal dourado que valia mais do que o sol. Não se tem notícia de outra cidade de Minas que tenha igual patrimônio debaixo de seu visível patrimônio. Por isto, quando estas betas tiverem sido limpas e tratadas como um bem histórico, darão a São João del-Rei um atrativo turístico que será único, no Brasil e no mundo. Atualmente, uma beta, nas imediações do centro histórico, já pode ser visitada e percorrida. Faltam outras 19, já mapeadas, dependendo da sensi

Em São João del-Rei não se duvida: há 250 anos, Tiradentes bem andou pela Rua da Cachaça...

As ruas do centro histórico de São João del-Rei são tão antigas que muitas delas são citadas em documentos datados das primeiras décadas do século XVIII. Salvo poucas exceções, mantiveram seu traçado original, o que permite compreender como era o centro urbano são-joanense logo que o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes tornou-se Vila de São João del-Rei. O Largo do Rosário, por exemplo, atual Praça Embaixador Gastão da Cunha, surgiu antes mesmo de 1719, pois naquele ano foi benta a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, nele situada e que originalmente lhe deu nome. Também neste ano já existia o Largo da Câmara, hoje, Praça Francisco Neves, conforme registro da compra de imóveis naquele local, para abrigar a sede da Câmara de São João del-Rei. A Rua Resende Costa, que liga o Largo do Carmo ao Largo da Cruz, antigamente chamava-se Rua São Miguel e, em 1727, tinha lojas legalizadas, funcionando com autorização fornecida pelo Senado da Câmara daquela Vila colonial.  Por

Padre José Maria Xavier, nascido em São João del-Rei, tinha na testa a estrela da música barroca oitocentista

 Certamente, há quase duzentos anos , ninguém ouviu quando um coro de anjos cantou sobre São João del-Rei. Anunciava que, no dia 23 de agosto de 1819, numa esquina da Rua Santo Antônio, nasceria uma criança mulata, trazendo nas linhas das mãos um destino brilhante: ser um dos grandes - senão o maior - músico colonial mineiro do século XIX . Pouco mais de um mês de nascido, no dia 27 de setembro, (consagrado a São Cosme e São Damião) em cerimônia na Matriz do Pilar, o infante foi batizado com o nome  José Maria Xavier . Ainda na infância, o menino mostrou gosto e vocação para música. Primeiro nos estudos de solfejo, com seu tio, Francisco de Paula Miranda, e, em seguida dominando o violino e o clarinete. Da infância para a adolescência, da música para o estudo das linguas, José Maria aprendeu Latim e Francês, complementando os estudos com História, Geografia e Filosofia. Tão consistente era seu conhecimento que necessitou de apenas um ano para cursar Teologia em Mariana . Assim, j