Dizem que o mineiro trabalha em silêncio. Se isto é verdade, o são-joanense, então... Mesmo e até quando trabalha para fazer barulho! É assim sempre que um novo sino vai ser batizado e subir à torre de uma barroca igreja de São João del-Rei: intenção, dedicação, ação, emoção em palavras certas, no tom exato. Pura e silenciosa melodia.
Mal o domingo amanhece e tudo o que no centro histórico de São João se ouve é um melodioso e vivaz concerto de sinos. Anunciando as celebrações matutinas, em horas esparsas, as torres das igrejas de São Gonçalo, São Francisco, Bonfim, Rosário, Matriz do Pilar, Mercês e Carmo dobram seus sinos, anunciando que aquele é o Dia do Senhor. E que por isso, em instantes, naquela igreja começará uma missa.
Mas no próximo domingo, 22 de junho, a partir das 8 horas, além de chamar para a missa costumeira, os sinos da igreja do Carmo dobrarão ainda mais alegres e festivos, por um motivo maior: a bênção e batismo do sino São João da Cruz e sua subida à torre esquerda e angulosa daquele templo que é considerado um dos seis mais belos projetos religiosos do mestre Aleijadinho. O novo sino ocupará o lugar antes preenchido pelo sino São João Batista que, depois de 98 anos de ininterrupta função, apresentou rachadura em sua bacia, desafinando sua sonoridade. Assim, domingo será mais um dia de louvor e festa em São João del-Rei.
As igrejas, as orquestras, a música barroca, a Semana Santa, o Carnaval, a Festa de Passos, as procissões, as Pastorinhas, folias e congadas, os jubileus, as Encomendações de Almas, o Largo de São Francisco, do Rosário, das Mercês, os chafarizes, as pontes da Cadeia e do Rosário, os tapetes de rua, o teatro, o artesanato, a gastronomia. Patrimônios singulares de São João del-Rei, tesouros de valor inestimável, que vêm vencendo séculos com o desejo de se eternizar.
Nesta trajetória, não se pode enganar nem esquecer: o povo são-joanense é, antes de tudo, a principal riqueza de São João del-Rei. É ele que, desde aqui a descoberta do ouro, no raiar do século XVIII, constrói, sustenta e mantém esta cultura sem igual, que é única em Minas Gerais, no Brasil e no mundo. É ele que a preserva como uma graça divina. Que a guarda no coração, a vivifica no dia a dia e tem para com ela um compromisso de perpetuidade, para que ela vença o tempo no passar dos séculos. Como uma tocha olímpica, sempre transmitida da geração atual para a geração vindoura, rumo à eternidade.
O jovem Eduardo Valim é o Prior da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo e dedica sua vida a zelar desta organização, que possui inestimável patrimônio material e imaterial em São João del-Rei. Nesta função, foi responsável pelos esforços que viabilizaram e tornaram realidade a conquista que os são-joanenses festejarão na manhã do próximo domingo: o batismo, bênção e elevação à torre do sino São João da Cruz. Com a modéstia sincera dos cidadãos valorosos, em poucas frases ele nos resume esta história:
"O sino que vamos suspender é uma réplica do nosso sino antigo, de nome João Batista, fundido em 1913 e doado por um irmão da nossa Ordem Terceira, chamado João Batista Viegas. Ficava na torre direita da igreja (do lado do Cemitério), mas apresentou distorção no som em novembro de 2011, quando dobrava pela solenidade dos defuntos. Após análise, constatamos que a dissonância era resultado de uma rachadura.
Descido o sino, colocamos em seu lugar o sino São Simão Stock, que a Ordem Terceira conseguiu comprar no ano passado. Deste modo, a torre esquerda ficou praticamente um ano sem o seu sino grande.
O processo de obtenção do novo sino começou com os contatos que mantive com a Marinha, que prometeu a fundição. O professor André Dangelo foi parceiro na composição do dossiê e encaminhamentos ao IPHAN, que aprovou nossa proposta.
O novo sino é uma réplica do sino antigo, que serviu como molde e foi fundido no Rio de Janeiro, pelo Arsenal de Guerra da Marinha. Pesa 550 quilos e também é afinado em Fá. Como possui a mesma liga, o som deve ser muito semelhante ao do sino centenário. Provavelmente se chamará São João da Cruz, que é um dos mais importantes santos carmelitas. O corpo está sendo montado com a ajuda do técnico do IPHAN, José Trindade.
O sino João Batista, de 101 anos, é patrimônio da Ordem Terceira do Carmo e continuará exposto na igreja do Carmo, até que se escolha um local definitivo para sua exposição. Quem sabe um futuro museu próprio da Ordem Terceira do Carmo?"
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