Há muito tempo Santo Antônio vive em São João del-Rei. Tanto que, dizem, a rua que responde pelo seu nome surgiu sobre o caminho pelo qual os bandeirantes entraram no Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes, atrás de ouro e muita riqueza.
A casa de Santo Antônio é pequenina, delicada e graciosa. Mais parece um oratório barroco do que uma capela. Entre jasmineiros e jaboticabeiras, o santo de Pádua que carrega o Menino Jesus sorridente, sentado em seu braço, é vizinho da centenária Banda Theodoro de Faria e das bicentenárias Orquestras Lira Sanjoanense e Ribeiro Bastos.
Especialmente hoje, os casarões e sobrados da Rua Santo Antônio estão enfeitados para saudar o santo padroeiro que por ali passeia todo dia 13 de junho, depois que o sol vai se deitar do outro lado da Serra do Lenheiro. Colchas rendadas, toalhas bordadas, cortinas de linha, vasos de plantas, jarros de flores - tudo nas janelas de uma rua sinuosa, estreita, poética e muito musical. A fachada de muitas casas, inclusive, é iluminada por luminárias e lampiões que, vistos de longe, se confundem com as grandes estrelas do céu de junho. Com elas também se confundem os multipontos coloridos e brilhantes que saltam dos fogos de artifício lançados ao alto de vários pontos do trajeto.
Caminhando no compasso da marcha solene e serelepe que a banda toca e balançando suas vestes no mesmo ritmo das flores que em cascata se movimentam no andor, Santo Antônio saúda, um a um, todos os seus vizinhos. Eles respondem em coro, gritando alto: Viva Santo Antônio! Viva!...
Depois, desce até o Largo do Rosário, sobe pela Rua do Tejuco e, cortando por um beco íngreme, volta novamente para sua rua. Ouve o toque do sino insistente que o chama para dentro, olha os foguetes que estouram no céu, antes de, de costas, adentrar sua capela.
E lá, no alto do altar, continuará esperando a fé, os pedidos, as preces, as promessas, a piedade e as velas votivas do povo são-joanense, que o visita toda terça-feira. Na diminuta capela, fitando o santo com intimidade, os são-joanenses murmuram várias vezes, como um mantra, no segundo dia da semana, este milagroso Responsório:
"Se milagres desejais / recorrei a Santo Antonio.
Vereis fugir o demônio / e as tentações infernais.
Recupera-se o perdido / rompe-se a invisível prisão.
E no auge do furacão / cede o mar embravecido.
Todos os males humanos / se moderam, se retiram.
Digam-no aqueles que o viram / digam-no os paduanos.
Pela sua intercessão / foge a peste, a fome e a morte.
O fraco torna-se forte / e torna-se o enfermo são.
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