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Ao longo de 60 anos, Conservatório de São João del-Rei "solta a voz nas estradas, já não pode parar"


Por mais vitalidade que tenham, não são muitas as instituições culturais brasileiras que conseguem entusiasmadamente apagar 60 velinhas com a intensidade e o vigor de um jovem atleta de 30 anos. Entre estas poucas, está o Conservatório Estadual de Música Padre José Maria Xavier, de São João del-Rei, que em 2013 está comemorando o seu 60º aniversário de inauguração Isto mesmo, de inauguração, pois sua criação foi oficializada dois anos antes, quando Juscelino Kubistchek, então governador de Minas Gerais, assinou as leis nº  811 e 825, nos dias 13 e 14 de dezembro de 1951.

Inaugurado, o Conservatório não parou mais. Como nas músicas de Milton Nascimento, "soltou a voz nas estradas", certo de que "todo artista tem de ir aonde o povo está". Sempre dirigido por grandes nomes da música são-joanense, como Emilio Viegas, Silvio Padilha, Pedro de Souza, Abgar Campos Tirado, entre outros - atualmente é presidido pelo professor Anthony Claret Moura Neri - implantou diversos projetos de iniciação, educação, formação e aperfeiçoamento musical, inclusive voltados para pessoas portadoras de necessidades especiais.

Originalmente batizado Conservatório Mineiro de Música de São João del-Rei, em  1954  passou a homenagear, em seu nome, o consagrado compositor sacro são-joanense Padre José Maria Xavier. Do mesmo modo, ao longo das décadas seguintes, ampliou os horizontes de sua atuação. Se a missão que primeiramente lhe deram foi formar músicos que levassem adiante a tradição musical de São João del-Rei, coroada de ouro pelas orquestras Lira Sanjoanense e Ribeiro Bastos, o Conservatório cumpre muito bem este papel e atua em um universo tão vasto que orgulhosamente declara ter função cultural, educacional de de lazer.

Presença certa na muito rica, intensa e diversificada programação cultural de São João del-Rei, sempre coloca nos palcos, nas igrejas, nos teatros, nas escolas e nas praças públicas, sua camerata, sua banda sinfônica, seus grupos de seresta, seus corais e apresentações de seus alunos, em duos, trios, quartetos, quintetos e todas as formações possíveis e imaginárias.

Neste mês de junho, por exemplo, toda a segunda quinzena terá programação cultural em nome do 60º aniversário. Afinal, como também canta Milton Nascimento, "todo dia é dia de viver!" Nos dias 14 e 15, sua comunidade realizará uma festa junina cultural, bastante diferente daquelas que se resumem a danças tradicionais e comidas típicas. Na do Conservatório, além destas manifestações de cultura popular, vai ter também Grupão de Violinos, mini-camerata, coral, choro, banda sinfônica e até uma big band.

Quando no sábado mal encerrar a festa, já no dia seguinte, domingo, 16, começa a Semana de Violões, que será aberta com uma apresentação de ninguém mais, ninguém menos do que o violonista Toninho Horta, certa vez considerado um dos cinco maiores violonistas do mundo. Mas além de violões, a semana terá também palestra sobre música arquetípica, relacionada à psicologia de Carl G. Jung, recitais de canto, roda de choro e até show de rock.

Para finalizar o mês, nos dias 25 e 26 o Conservatório realizará o projeto Cenas Curtas que, homenageando o escritor Luís Fernando Veríssimo, levará para ruas, praças e largos do centro histórico de São João del-Rei um cortejo músico-performático-teatral, apresentações e pequenas montagens teatrais, além de intervenções cênico-urbanas nas ruas mais movimentadas da cidade.

Ufa! Haja fôlego cultural... Viu porque eu disse que poucas são as instituições culturais que chegam aos 60 anos com o entusiasmo e o vigor de quem acabou de completar 30?

Pensemos na resposta ouvindo Toninho Horta!...

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