Sonoridade, sinos, São João del-Rei. Ao "pé da letra" estas palavras não rimam, mas tão grande é a afinidade existente entre a cidade e a musicalidade, que não é errado dizer que não só elas rimam quanto são também sinônimas. É pura verdade!
Assim como as bicentenárias pontes de pedra, os lampiões antigos cujos suportes lembram ferozes dragões, as torres e monumentais frontispícios das igrejas barrocas, os sinos são símbolos e signos de São João del-Rei, o que a tornou conhecida como "cidade dos sinos" e, ainda, "terra onde os sinos falam".
Em São João del-Rei, desde sempre, sino tem nome de homem: Daniel, Bailão, Elias, Eliseu, Jerônimo. Até hoje eles informam, várias vezes por dia (e até à noite) o que está acontecendo ou vai acontecer dentro ou no entorno de sua igreja: novena, missa, procissão, Te Deum Laudamus, enterro, fatos e datas especiais do universo litúrgico católico.
A chegada de um sino novo para a torre e seu batismo são sempre uma festa. Tem banda de música tocando, bênção religiosa e até discurso pode ter. Torna-se um acontecimento social e de lazer importante, atraindo muitas pessoas especialmente para aquele largo, onde se tornarão testemunhas de um fato histórico memorável.
Se a subida de um sino à torre é alegre, sua despedida e silêncio definitivo são nostálgicos e agonizantes como a morte do tradicional homem são-joanense. Na solidão aérea de sua torre, ele dobra pungente suas próprias exéquias, lançando sons compassados sobre telhados, largos e jardins.
Com o sino Elias, da igreja do Carmo, está sendo assim. O tempo e os dobres provocaram uma rachadura em sua bacia, deformando sua sonoridade e criando riscos de ameaçadora quebra do bronze. Por isso ele está se despedindo. Justamente ele - que melancolicamente, a 18 de novembro do ano passado, anunciou a passagem de meu pai - Geraldo Sebastião da Costa - do pórtico da igreja do Carmo até o monumental portão de ferro do Cemitério da mesma Ordem Terceira (foto) - há algum tempo já começou a anunciar sua própria morte.
É isto o que nos mostra o cineasta são-joanense e sineiro Helvécio Benigno, no vídeo que pode ser acessado clicando no link http://www.youtube.com/watch?v=0izBgg8HdIw&feature=relmfu. Vale observar, principalmente, o movimento pendular espontâneo do minuto final.
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