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Independente de religião, boldo é planta sagrada em São João del-Rei!

 


Especialmente procurado para curar a ressaca  braba de são-joanense que exagera na água que passarinho não bebe e em outras canjibrinas, sem dispensar o torresmo, o bife de fígado acebolado, as almôndegas, chouriços, costelas com mandioca e até mesmo o mocotó e a dobradinha, o boldo é um remédio miraculoso.

Seu gosto amargo, mais amargo ainda do que o caldo do chifre do diabo, tem poderes que ninguém duvida. Como por exemplo desarmar as bombas que estouram na cabeça e espremem os miolos do infeliz moribundo;  lavar da boca o gosto de cabo de velho guarda-chuva e levar para bem longe as náuseas, enjoos e até mesmo os vômitos, que desgraçadamente torcem o estômago e trazem a bílis por sobre a língua.

Por tudo isto, o boldo, em São João del-Rei é uma planta, podemos até dizer, bastante venerada. Muito fácil de ser plantado, não é raro encontrar um pé, às vezes até mesmo florido com seus pendões roxos, nos velhos quintais que ainda resistem à exploração imobiliária.

Mas o que surpreende mesmo é que o boldo, elevado à categoria de planta nobre e ornamental, brinca de roda, faz gracejos e tenta desafiar e seduzir as roseiras que enfeitam o jardim espontâneo do Beco do Pecado. Para quem não sabe, este é, por motivos óbvios, o outro nome do Beco da Escadinha, que une a rua onde outrora existiu uma zona boêmia e de prostituição até a rua lateral da igreja do Carmo. 

Provavelmente não foram poucas as madrugadas em que o boldo foi apanhado e bravamente mastigado in loco pelos homens que, saindo da noitada, queriam evitar os dissabores da ressaca e qualquer vestígio que pudesse incriminá-los pela fortuita e sorrateira busca de prazer e diversão.

- A bem da verdade, nestas terras del-Rei, o boldo, por suas propriedades fitoterápicas regenerativas do fígado e protetoras do bem-estar, é uma planta santa. 

- Santa? 

- É, isso mesmo. Acho até que é uma planta sagrada!

- Sagrada? Uai, mas por que?

- Olha procê ver. No Domingo de Ramos deste ano, 2022, enquanto as portas de muitas casas do centro histórico estavam enfeitadas com uma palma benta, para lembrar a gloriosa entrada de Cristo em Jerusalém e avisar  a chegada da Semana Santa, no Beco do Pecado, quem cumpria este papel e enfeitava o portão de ferro era um generoso galho de boldo!

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Texto e foto: Antonio Emilio da Costa

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