É um sacrilégio, quase um crime ou pecado mortal, ir a São João del Rei e não passear calmamente pela Rua Santo Antonio. É algo mais ou menos como ir à Cidade do Rio de Janeiro e não ver o mar, ou como ir a Roma e não ver o Papa!
A tricentenária, estreita, poética, misteriosa e sedutora rua ainda hoje é a morada de muitos tesouros, guardados nos baús da música barroca, da história e da arquitetura colonial. O consagrado compositor sacro Padre José Maria Xavier, por exemplo, nasceu nela, em 1819. A Banda de Música Theodoro de Faria (1902), a bicentenária Orquestra Ribeiro Bastos (1790) e a Orquestra Lira Sanjoanense, que é a mais antiga orquestra das Américas em funcionamento ininterrupto desde a sua fundação, em 1776, têm suas sedes e arquivos naquela rua. Consta que a Lira Sanjoanense, inclusive, foi a primeira corporação musical profissional instituída no Brasil. Por tudo isto, poeticamente, a Rua Santo Antônio bem poderia se chamar também Rua da Música.
A capela de Santo Antônio, graciosa, alegre e acolhedora, é a joia mais delicada e preciosa, incrustrada em um casario de casas geminadas e tortas, pintadas de branco, com suas janelas que duplamente combinam cores vivas, harmonizando azuis, vermelhos, ocres, amarelos, verdes - tudo como nos tempos coloniais.
A Rua Santo Antônio é uma rua festiva, que se enfeita toda em dias específicos dos meses de maio e junho, para as procissões de Pentecostes, Corpus Christi e do padroeiro que lhe dá nome, no dia 13 de junho. Neste dia, todas as casas ostentam, na janela, um estandarte de chitão e fitas coloridas, tendo ao centro estampas dos santos juninos: Antônio, João e Pedro. Recentemente passou a funcionar na Rua Santo Antônio, o Centro de Referência do Patrimônio Imaterial de São João del Rei. Surpreende que a pequena casa que o abriga, como uma breve pausa em uma partitura musical, interrompe o conjunto pintado em cores coloniais, com sua fachada cinza, porta e janela branca.
Aos poucos, as artes plásticas também estão escolhendo para moradia a Rua Santo Antônio. Dois ateliês, um de escultura, mais antigo, e um de pintura, ali se encontram instalados e seus artistas recebem e conversam com são-joanenses e turistas que os visitam, num diálogo muito agradável. Deste modo, não demorará muito tempo para que a Rua das Casas Tortas se torne conhecida também como a Rua das Artes.
Há pouco mais de um mês, a Rua Santo Antonio passou a abrigar um novo tipo de arte. A arte do sabor, revelado em uma cafeteria que serve cafés especiais, chás, bolinhos e outras delícias irresistíveis. Isto mesmo: um lugar muito agradável, amplo, bem decorado, ventilado, silencioso, com música suave, dividido em vários salões, lounges, salas para pequenos grupos e até um salão maior, num porão colonial arejado e muito bem restaurado.
´- Que lugar é esse?
- Ora, é o Bolim de Chuva!
Enfim, um café digno da Rua Santo Antônio, exatamente atrás da igreja do Rosário dos Pretos, indo na direção da capela do Santo milagroso, que fez um burro ajoelhar, falou com os peixes, espantou o demônio, ainda hoje ajuda solteiros desejosos a arrumarem casamento, recebeu nos braços e foi acariciado pelo Menino Jesus e, muitas vezes por dia, mostra as coisas perdidas a quem, angustiado e fervoroso, lhe pede ajuda para encontrá-las.
Sendo assim, se você não conseguir achar o casarão colonial autêntico, onde funciona o Bolim de Chuva, pede ajuda a Santo Antônio. Você vai encontrar logo logo. Mas em seguida, antes de cruzar a porta do Café, não esqueça de rezar uma Ave Maria pro Santo poderoso! Vai que depois você perde outra coisa...
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Foto e texto: Antonio Emilio da Costa
Que texto mais lindo! Nossa equipe ficou muito emocionada com esse presente tão bonito.
ResponderExcluirQue honra poder estar em São João del-Rei, e que felicidade ser abraçada e acolhida pelos sanjoanenses desse jeito tão especial.
Nós agradecemos muito tanta sensibilidade e carinho com nosso trabalho. Sejam sempre bem vindos à nossa casa.
Com amor e café, Bruna.
Bruna, este post foi produzido a partir da visita que fiz ontem ao Bolim de Café, verdadeiramente como um cliente qualquer. Fiquei muito bem impressionado com o que vi, do espaço e decoração até o atendimento solícito e gentil de toda a equipe. Senti então que o Bolim tem tudo a ver com a Rua Santo Antonio e, portanto, com este almanaque digital que, entre outros propósitos, procura revelar faces de São João del Rei que são desconhecidas de muitos são-joanenses. Parabèns, sucesso para o empreendimento, realização e felicidades para toda a equipe. Um abraço
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