Com seus sinos, suas orquestras e bandas, São João del-Rei é mais do que uma cidade. É uma sinfonia. Pura música. As ruas se alinham em pauta, para que igrejas, casarões, sobrados, lampiões, cruzeiros e pontes se alternem em notas e pausas, entre becos e largos, entre sol e chuva, dia e noite.
As flores dos jardins - damas da noite, bugarins, margaridas, ibiscos, papoulas, manacás, jasmins - ao mesmo tempo que perfumes, exalam sons celestes, de estrelas, orvalhos e vagalumes. Mas só depois que, crepuscular, a clave de sol se apaga, para acender no céu a clave de luar. Tudo por milagre de Santa Cecília...
Ela, padroeira dos músicos, é madrinha da cidade. Mora aqui desde 1717, quando veio para Vila de São João del-Rei a pedido do Mestre Antonio do Carmo, a protegê-lo na missão de desenrolar um tapete de música para a passagem do Conde de Assumar, na sua primeira visita São João, O nobre português ainda estava ressabiado com violência da Guerra dos Emboabas e precisava ter certeza de que das chamas do ódio que incendiaram Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes não mais restavam brasas, sequer cinzas.
A santa tomou gosto pelo Vale do Lenheiro, ficou aqui, não quis mais voltar. Trezentos anos depois, tem em São João del-Rei um altar dourado na Matriz do Pilar e ainda maior legião de músicos. Várias orquestras, muitas bandas, uma infinidade de corais, sineiros... Tímidas e envergonhadas, pela própria condição periférica, popular, profana, folias, congadas e baterias de escola de samba não ousam confessar, mas também rendem graças e pedem favores à santa-mártir, mãe da música.
Mas Santa Cecília não discrimina. Pelo contrário, sabe que quanto mais diversos forem os ritmos, mais variados os compassos e mais combinadas as notas, mais rica, bela e plural serão a música, a melodia, a harmonia e o concerto final. Por isto, espera só que o sol se ponha no dia 22 de novembro para, de mãos dadas com todos, passear numa alegre ciranda - de flores, sons e estrelas - pelas ladeiras, largos e becos de São João del-Rei. E na fumaça do incenso com eles subir aos Céus...
* Dedicado à jornalista são-joanense Cláudia Simões
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