Quem é de São João del-Rei ou conhece, atenciosamente e com interesse, nossa terra, por mais contemporâneo e digital que seja, sabe bem o que é tradição. Afinal, o povo são-joanense conserva e mantém, desde 1704, práticas culturais que aqui surgiram logo que foi criado o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar e se solidificaram a partir da instituição da Vila de São João del-Rei, em 1713.
De lá para cá, passaram-se mais de 300 anos. Aumentaram-se as manifestações, multiplicaram-se os saberes, sofisticaram-se as "festas", intensificaram-se as comemorações, ao mesmo tempo em que se consolidou a identidade são-joanense como uma cultura viva, fundamentada no passado, mas vivificada e vivenciada cotidianamente com grande atualidade. Certamente é por isto que São João del-Rei tanto se destaca em todo o país, quando o assunto é patrimônio imaterial.
Mas como isto acontece? É simples: por mais contraditório que possa parecer, na 'terra onde os sinos falam' a tradição se mantém por meio da constante atualização e pelo eterno rejuvenescimento. É assim que ela continua viva e genuína, sem nunca perder sua verdadeira função e finalidade sociocultural. Sem nunca ser folclorizada ou transformar-se em espetáculo.
A manutenção das tradições de São João del-Rei não se deve a determinações legais ou imposições de qualquer natureza. É uma postura voluntária e cidadã da própria comunidade. Os ritos, as "festas", as celebrações barrocas e também as populares, enfim todo este patrimônio cultural é zelado como um bem de família, uma responsabilidade transmitida de pais para filhos, de geração para geração. Em muitos casos, por muitas décadas, algumas modalidades culturais foram literalmente conservadas por famílias, o que garantiu sua preservação, nas épocas em que estiveram expostas ao descaso e aos anseios da inconsequente modernização. Infelizmente isto não aconteceu na mesma intensidade - e até hoje nem sempre acontece - em relação ao patrimônio arquitetônico, volta e meia ameaçado com alguma descaracterização e, até mesmo, demolição.
Um bom exemplo deste rejuvenescimento cultural é o projeto Juventude ORB, na verdade uma filosofia e ação da Orquestra Ribeiro Bastos para estimular o interesse dos jovens pela música e incentivá-los a fazerem parte daquele grupo musical fundado no século XVIII. Seu lançamento será no próximo domingo, dia 10, às 19 horas, na sede da Sociedade de Concertos Sinfônicos de São João del-Rei, que fica em uma esquina, em frente ao jardim do Largo do Carmo, no sentido de quem vai subir para o Senhor dos Montes.
No concerto-recital, uma homenagem ao Dia dos Pais, os jovens músicos executarão um repertórico variado, do qual as músicas sacras e eruditas serão apenas uma parte. Para se ter ideia da riqueza do espetáculo, quando forem abertas as cortinas se revezarão no palco um grupo de câmara de cordas, a Camerata ORB, e um grupo de sopros, a Big Band ORB.
Palmas para a Orquestra Ribeiro Bastos. Palmas para a cultura sempre viva, atual e renovada de São João del-Rei!
Sobre a Orquestra Ribeiro Bastos, leia também
http://diretodesaojoaodelrei.blogspot.com.br/2012/03/orquestra-ribeiro-bastos-de-sao-joao.html
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