Na ancestralidade da história de Minas, raiar do século XVIII e infância desta terra, o ouro em São João del-Rei qual gabiroba era catado à flor da terra. Cada pepita brilhando à luz do sol, como num milagre, reluzia de eternidade uma semente do espírito de Minas.
O cobiçado metal exauriu-se, mas a semente brotou, floresceu e frutificou na forma de um "sigiloso desafio", como tão bem interpretou o célebre são-joanense Otto Lara Resende. Aliás, Fernando Sabino, na crônica Mineiros por Mineiros, jura ser de Otto um "causo" que bem mostra a sabedoria que subjaz nos códigos diários embaçados pela fumaça das cozinhas e pela sombra cheirosa dos velhos quintais são-joanenses.
Conta a estória que certo rapaz, em visita a uma casa amiga, quatro vezes foi convidado a jantar e quatro vezes recusou a oferta. Somente depois deste último não a dona de casa providenciou mais um lugar à mesa.
Terminada a refeição, a sobremesa, o licor, o café e a conversa, despediu-se o rapaz satisfeito e agradecido com tanta gentileza. Mas mal cruzou a soleira da porta da sala, os filhos ainda na sala de jantar perguntaram à matriarca qual a razão de tantos passos até que fossem providenciados talheres para o visitante. Sem qualquer dúvida, a mãe respondeu:
- " Pelo seguinte: a primeira vez, ele recusou por educação. A segunda, para ver se eu também não estava convidando apenas por educação. A terceira porque, tendo chegado sem aviso, podia ser que a comida não desse para ele. Na quarta negativa ele estava aceitando, mas não ficava bem dizer sim depois de ter dito não três vezes."
Como recomendava Tancredo Neves, "às vezes convém colocar as pelúcias do sim entre as asperezas do não!" - Ah, esses códigos inconfidentes do povo de São João del-Rei!...
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Fonte: CASTRO, Moacir Werneck, in Minas e Mineiridade. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 11/03/1995.
O cobiçado metal exauriu-se, mas a semente brotou, floresceu e frutificou na forma de um "sigiloso desafio", como tão bem interpretou o célebre são-joanense Otto Lara Resende. Aliás, Fernando Sabino, na crônica Mineiros por Mineiros, jura ser de Otto um "causo" que bem mostra a sabedoria que subjaz nos códigos diários embaçados pela fumaça das cozinhas e pela sombra cheirosa dos velhos quintais são-joanenses.
Conta a estória que certo rapaz, em visita a uma casa amiga, quatro vezes foi convidado a jantar e quatro vezes recusou a oferta. Somente depois deste último não a dona de casa providenciou mais um lugar à mesa.
Terminada a refeição, a sobremesa, o licor, o café e a conversa, despediu-se o rapaz satisfeito e agradecido com tanta gentileza. Mas mal cruzou a soleira da porta da sala, os filhos ainda na sala de jantar perguntaram à matriarca qual a razão de tantos passos até que fossem providenciados talheres para o visitante. Sem qualquer dúvida, a mãe respondeu:
- " Pelo seguinte: a primeira vez, ele recusou por educação. A segunda, para ver se eu também não estava convidando apenas por educação. A terceira porque, tendo chegado sem aviso, podia ser que a comida não desse para ele. Na quarta negativa ele estava aceitando, mas não ficava bem dizer sim depois de ter dito não três vezes."
Como recomendava Tancredo Neves, "às vezes convém colocar as pelúcias do sim entre as asperezas do não!" - Ah, esses códigos inconfidentes do povo de São João del-Rei!...
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Fonte: CASTRO, Moacir Werneck, in Minas e Mineiridade. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 11/03/1995.
Poesia que, falando das coisas escondidas, exala e exalta as coisas setecentistas! Léo Morato.
ResponderExcluirLeo, mineiro que é, dos mais genuínos, de Pitangui!, você sabe:
ResponderExcluirA poesia / em Minas / é escrita com as letras / dos séculos / e também do dia a dia. Gde abraço!