Pular para o conteúdo principal

No Carnaval de São João del-Rei, feito de sonho e ilusão, qual é a sua fantasia?


Brincar o Carnaval. Esta expressão era o que mais se ouvia em São João del-Rei há até mais ou menos trinta anos atrás, quando chegava o mês de fevereiro. Agora, não se usa mais, caiu em desuso este modo falar. Apenas 'vou para o Carnaval', se diz. Sequer cordão, farra e folia... E não vai aqui qualquer saudosismo ou nostalgia. É assim, e pronto!

Naquele tempo, na verdade, o que se fazia no Carnaval era brincar, num faz de conta em que tudo se podia: o bancário ser sheik, a cozinheira odalisca, o farmacêutico pierrô, a escriturária colombina, o pedreiro arlequim, o carteiro Mandraque, a balconista havaiana, o relojoeiro pirata, a empregada doméstica trapezista, o açougueiro bebê-chorão, a "mulher da vida" dama antiga, o pai-de-família palhaço, a mãe-de-família melindrosa, o desempregado mandarim, o caixeiro Maciste, a professora fada madrinha, o escoteiro Peter Pan, a estudante meiga oncinha, o comerciário Nega-maluca, o funcionário da Prefeitura Aladim, o sapateiro faquir, o carroceiro centurião, a sorveteira domadora, o camelô ilusionista, o medidor da Cemig astronauta, o verdureiro zé-pereira, o sapateiro príncipe da lua.

Os mágicos destas metamorfoses? Costureiras, alfaiates, floristas, desenhistas, artesãos minuciosos, que numa alquimia de imaginação e engenho, tecidos brilhosos, tramas transparentes, armações de arame e papelão, brilhos falsos, reflexos convexos, faíscas de sonho, fagulhas de ilusão, centelhas de desejo, transformavam imaginação em realidade. Como Deus multiplicado criavam, para um tempo de três dias, os delírios das mil e uma noites...

São João del-Rei tem becos e esquinas. Tem alfaites e costureiras. Tem delírios, sonhos, cordões, liras, pierrôs e colombinas. Tem confetes e serpentinas. E então: que tal mandar fazer e vestir de novo, neste Carnaval, suas fantasias?...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Debaixo de São João del-Rei, existe uma São João del-Rei subterrânea que ninguém conhece.

Debaixo de São João del-Rei existe uma outra São João del-Rei. Subterrânea, de pedra, cheia de ruas, travessas e becos, abertos por escravos no subsolo são-joanense no século XVIII, ao mesmo tempo em que construíam as igrejas de ouro e as pontes de pedra. A esta cidade ainda ora oculta se chega por 20 betas de grande profundidade, cavadas na rocha terra adentro há certos 300 anos.  Elas se comunicam por meio de longas, estreitas e escuras galerias - veias  e umbigo do ventre mineral de onde se extraíu, durante dois séculos, o metal dourado que valia mais do que o sol. Não se tem notícia de outra cidade de Minas que tenha igual patrimônio debaixo de seu visível patrimônio. Por isto, quando estas betas tiverem sido limpas e tratadas como um bem histórico, darão a São João del-Rei um atrativo turístico que será único, no Brasil e no mundo. Atualmente, uma beta, nas imediações do centro histórico, já pode ser visitada e percorrida. Faltam outras 19, já mapeadas, dependendo da sensi

Em São João del-Rei não se duvida: há 250 anos, Tiradentes bem andou pela Rua da Cachaça...

As ruas do centro histórico de São João del-Rei são tão antigas que muitas delas são citadas em documentos datados das primeiras décadas do século XVIII. Salvo poucas exceções, mantiveram seu traçado original, o que permite compreender como era o centro urbano são-joanense logo que o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes tornou-se Vila de São João del-Rei. O Largo do Rosário, por exemplo, atual Praça Embaixador Gastão da Cunha, surgiu antes mesmo de 1719, pois naquele ano foi benta a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, nele situada e que originalmente lhe deu nome. Também neste ano já existia o Largo da Câmara, hoje, Praça Francisco Neves, conforme registro da compra de imóveis naquele local, para abrigar a sede da Câmara de São João del-Rei. A Rua Resende Costa, que liga o Largo do Carmo ao Largo da Cruz, antigamente chamava-se Rua São Miguel e, em 1727, tinha lojas legalizadas, funcionando com autorização fornecida pelo Senado da Câmara daquela Vila colonial.  Por

Padre José Maria Xavier, nascido em São João del-Rei, tinha na testa a estrela da música barroca oitocentista

 Certamente, há quase duzentos anos , ninguém ouviu quando um coro de anjos cantou sobre São João del-Rei. Anunciava que, no dia 23 de agosto de 1819, numa esquina da Rua Santo Antônio, nasceria uma criança mulata, trazendo nas linhas das mãos um destino brilhante: ser um dos grandes - senão o maior - músico colonial mineiro do século XIX . Pouco mais de um mês de nascido, no dia 27 de setembro, (consagrado a São Cosme e São Damião) em cerimônia na Matriz do Pilar, o infante foi batizado com o nome  José Maria Xavier . Ainda na infância, o menino mostrou gosto e vocação para música. Primeiro nos estudos de solfejo, com seu tio, Francisco de Paula Miranda, e, em seguida dominando o violino e o clarinete. Da infância para a adolescência, da música para o estudo das linguas, José Maria aprendeu Latim e Francês, complementando os estudos com História, Geografia e Filosofia. Tão consistente era seu conhecimento que necessitou de apenas um ano para cursar Teologia em Mariana . Assim, j