Há vinte anos, por ocasião das comemorações do 30º aniversário do Museu Regional de São João del-Rei, colaborei na elaboração de um projeto cultural que, além de um ciclo de palestras, lançamento de um carimbo postal e realização de duas exposições - Painéis da Inconfidência, do artista plástico Fernando Pita, e Povo da Terra, do multiartista são-joanense Marcos Mazzoni, previa também o lançamento de um folder sobre a instituição homenageada. Dividida em três blocos, a programação durou quatro meses: começou no dia 11 de agosto de 1993, com a primeira palestra, e encerrou-se em 6 de dezembro, com o carimbo e a segunda exposição.
Para compor o folder e para o painel de abertura da segunda exposição, do são-joanense Mazzoni, que reproduzia em esculturas de cerâmica personagens populares da história de São João del-Rei a partir da segunda década do século XX, até os anos 90, criei o seguinte texto:
São João del-Rei: a cidade & sua história
Sob as luzes e o esplendor do século XVIII, uma das primeiras vilas régias da Capitania de Minas Gerais iniciou sua história, às margens do Rio das Mortes e à sombra da Serra do Lenheiro. História escrita com ouro, sangue, arte e ideais.
Cidade guerreira, de solo fértil, de onde se extraiu grandes riquezas e de cujo barro se moldou cidadãos e heróis: Tiradentes, Bárbara Eliodora, Tancredo Neves e muitos outros que são símbolos maiores da dignidade nacional.
A alma são-joanense é nobre e não negou contribuições à cultura brasileira, principalmente quando se definia nossa identidade enquanto povo e nação. Francisco de Lima Cerqueira, Venâncio do Espírito Santo, Aniceto de Souza Lopes, Padre José Maria Xavier, Presciliano José da Silva, Martiniano Ribeiro Bastos, entre muitos outros, produziram obras que os incluem entre os maiores arquitetos, escultores, pintores e músicos do Barroco Mineiro.
O homem comum, no dia a dia dos calendários, pelos séculos afora, continuou bravamente construindo a história: os tropeiros, conduzindo-a pelos caminhos, em lombos de burros, semeando-a aos quatro ventos. As lavadeiras, clareando a barra do dia nas imensas trouxas de roupa quaradas ao sol refletido pelas cristalinas águas do Ribeirão São Francisco Xavier. Os operários, nas fábricas e nos teares artesanais, tecendo, com o sutil fio de algodão e tempo, a vida eterna. Os sapateiros, sob escadas de madeira dos escuros e frios porões bicentenários, consertando saltos gastos pelos séculos, colocando meias-solas em sapatos que caminham rumo ao amanhã, ao futuro e ao novo tempo.
A história de São João del-Rei tem muitos capítulos e, desde sempre, vem sendo escrita a muitas mãos. Cada anoitecer é uma página do tempo que se vira, para que os homens sonhem com a realidade que vão construir, quando romper a aurora.
Este compromisso vem de muito tempo...
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