Há pouco mais de 115 anos, no último dia de janeiro de 1897, partiu de São João del-Rei o 16° Batalhão de Infantaria. Vindo de Pelotas e passagem na cidade desde junho de 1896, seguia para combater Antônio Conselheiro, na Guerra de Canudos. Mas não foi o modo de falar, os costumes desconhecidos nem o toque marcial da partida o fato o que marcou a passagem dos soldados gaúchos por São João del-Rei. O que mais causou estranheza aos são-joanenses foi a inusitada apresentação daqueles militares, que formaram um "Bando de Reis", muito diferente das folias de Reis a que estavam acostumados. No dia 6 de janeiro, vestidos "a caráter" de Reis Magos, acompanhados de algumas mulheres, os sulistas percorrerem diversas ruas do centro da cidade, cantando em coro toadas e loas desconhecidas. Seus movimentos de danças curiosas, próprias de sua distante região, pareciam um espetáculo itinerante, que agradou e foi bastante aplaudido pelo povo que morava à sombra da Serra do Lenheiro.
As Folias de Reis que os são-joanenses conheciam, à época conhecidas como Bandos de Reis, tinham como figura central o Bastião - único personagem que, vestido de cores berrantes e estranhamente mascarado, dançava passos típicos de "urubu malandro e de sabiá moleque". O ritmo era ditado por cantores, um violeiro, um caixeiro, um tocador de pandeiro, um sanfoneiro e um rabequista. O solo pertencia ao Bastião e o coro era formado por cinco ou seis "goelas", responsáveis pelos mais altos, distorcidos e estridentes agudos.
O jornal Astro de Minas, que circulou em São João del-Rei no dia 9 de fevereiro de 1883, portanto há exatos 130 anos, trouxe, em uma crônica retrospectiva, o retrato conciso e preciso de uma Folia de Reis são-joanense, tal qual acontecera em 1860.
Dizia o seguinte: "Nos Bandos de Reis vinham os três reis magos fantasiados e a cavalo, trajando roçagante manto, empunhando áureo cetro e tendo a cabeça cingida de resplandecente diadema, sobressaindo-se entre eles o rei Congo."
Quer saber qual é o ritmo do Urubu Malandro? Então ouça o choro abaixo (Adenilde Fonseca, Jacob do Bandolim e Waldyr Azevedo). Uns, dizem que é de Braguinha e Loro. Outros, fue é trecho de uma cantiga folclórica gravada pela primeira vez em 1914. Portanto, há 99 anos!
Sem mais conversa, já que é quase Carnaval, pelo sim e pelo não, vai Urubu Malandro...
Fonte: CINTRA, Sebastião de Oliveira. Efemérides de São João del-Rei. Volume I, segunda edição revista e aumentada. Imprensa Oficial de Minas Gerais, Belo Horizonte. 1982.
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