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São João del-Rei 300 anos. São João dos sinos!


Tantos e tão sonoros são os sinos de São João del-Rei, do alto da muitas torres vigiando  tudo e contando uns para os outros - e também para os são-joanenses! - o que acontece ou vai acontecer do lado de cá da Serra do Lenheiro, que São João del-Rei responde se sente orgulhosa quando lhe chamam "cidade onde os sinos falam".

Por incrível que pareça, o sino chegou ao vale do Lenheiro juntamente com o próprio Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes nos primeiros anos do século XVIII. Não tão grande, quanto os atuais, mas como uma sineta exposta no Museu de Arte Sacra. Naquele tempo, a primitiva capela da santa padroeira era uma capela de pau a pique e palha, sem torres para sinos. Assim, era a sineta que tocavam à frente das procissões.

Todas as igrejas da cidade possuem sinos pequenos, médios e grandes, de sons únicos, variados. Tradição são-joanense, todo sino, ao ser batizado, recebe um nome, para lembrar um santo ou personalidade religiosa. Elias, por exemplo, é o nome de um sino da igreja do Carmo, Domingos de Gusmão de um sino da igreja do Rosário, João Evangelista de um sino da Irmandade da Boa Morte, Daniel de um sino da Irmandade das Almas.

Na antiga e setecentista Matriz do Pilar, hoje catedral basílica, os sinos estão assim colocados:

Torre direita (à esquerda de quem vê de frente a Catedral)
. Pela frente: sino dos Passos
. Lateral à direita: sino da Boa Morte
. Ao fundo: sino pequeno da Boa Morte

Torre esquerda
. Pela frente: sino do Santíssimo Sacramento. É o mais importante da cidade e anuncia horas cheias e três quartos de hora.
. Lateral  direita: sino das Almas, chamado Daniel
. Lateral esquerdo: sino da "fábrica", bate meia hora e um quarto de hora
. Ao fundo: sino pequeno da Boa Morte, toca dobres fúnebres e repiques festivos

São três as modalidades básicas de todos os toques de sinos de São João del-Rei que, por sua combinação, frequência, duração e ritmo, formam peças sonoras que compõem o mais completo, sofisticado, original, tradicional e complexo repertório sineiro do Brasil.

. Dobre simples - O sino cai pelo lado em que está encostado o badalo, ouvindo-se apenas uma pancada a cada movimento.

. Dobre duplo - O sino cai pelo lado oposto ao que está encostado o badalo, ouvindo-se assim duas pancadas a cada movimento.

. Repiques - O movimento é feito somente pelo bater manual  do badalo, com o sino parado.

Em geral, os dobres, quando lentos e compassados, expressam contrição ou a tristeza de chamados fúnebres. Quando os sinos giram velozes, como por exemplo à saída e entrada de procissões, indicam júbilo e vitória, ocasiões em que, muitas vezes, os badalos estão enfeitados com penachos - grossos pingentes de tiras de papel crepom da cor da opa de sua irmandade, confraria ou ordem terceira.

Já os repiques indicam alegria, até mesmo quando anunciam o enterro de uma criança. Nos antigos entendimentos, nestes casos a alegria era pela subida e entrada de mais um anjinho no céu.


Comentários

  1. Boa noite, segue link de um curta metragem "Experimental" que produzi e foi exibido na 16ª Mostra de Cinema de Tiradentes. Quero muito ler uma crítica do Sr.

    http://www.youtube.com/watch?v=qsCVBpVquNU

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    Respostas
    1. Olá Rodrigo, obrigado pelo contato e pelo envio do link do seu vídeo.

      Assisti e achei muito interessante, tanto na narrativa cinematográfica quanto no tema para o qual aponta - São João del-Rei além do patrimônio tricentenário.

      Em poucos minutos, seu vídeo sugere perguntas sobre as quais ninguém ainda pensou, inspira a realização de pesquisas que podem nos ajudar a conhecer aspectos importantes da história são-joanense na primeira metade do século XX.

      Estas palavras não têm a pretensão de ser uma crítica, são apenas comentário do que observei nesta obra que você classificou com "experimental".

      Se você quiser trocar mais ideias sobre o assunto, meu e-mail é emiliosjdelrei@gmail.com. Minha primeira graduação em Comunicação (há muito tempo) foi na habilitação TV, Rádio e Cinema e depois disso trabalhei bastante com exposições que construíam discursos históricos que explicavam a realidade atual.

      Fique à vontade para contatos.

      Grande abraço.

      Emilio.

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    2. Fico honrado com seu retorno, estou em uma viagem, entro em conta na próxima semana!!!!

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  2. Este texto informa que o penacho tem a cor da irmandade, mas aprendi que são da cor litúrgica referente. De fato podemos ver em vídeos do YouTube, em procissões, os penachos com a cor litúrgica. Mas também já vi penachos de duas cores, azul e branco, amarelo e vermelho, e neste caso, ficava sem entender, mas agora acredito que se tratava da cor da irmandade ou ordem, e não da cor litúrgica.

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