Como pode? Às vezes, dobrando a esquina de um beco estreito, você distraidamente levanta os olhos atraído pelo celeste azul turqueza e, de repente, se depara com uma janela sonhadora, guarnecida por uma sacada de ferro retorcido em bordado e renda, de onde pendem franjas exuberantes de cipó São João. Folhas de esmeralda, flores de coral, fascínios de São João.
Largo de São Francisco, Largo do Carmo, Largo das Mercês, Largo do Rosário, Rua Direita - territórios mágicos, coroados por igrejas soberanas. Meio a elas - o sol prateando as pedras, o perfume do incenso condensando aéreas nuvens branca -, anjos de todo tipo levitam, cantando hosanas uns aos outros. Sopram notas musicais, confidenciando entre si desejos e sonhos que vêem no coração do povo mortal que ali transita. Todo coração é um cofre de sentimentos, esperanças e segredos.
Mas basta aceitar o convite de uma ladeira, curvar-se à curva de um beco torto, contornar a Ave-Maria de uma igreja, atender ao chamado de uma clave de sol, ou simplesmente deixar-se levar pela brisa ou pelo vento, que o acaso tem a chave e está a postos. O inesperado vai se revelar beleza em telhados, portas, portais, portões, janelas, bandeiras, guilhotinas, sacadas, águas furtadas, cimalhas, beirais, beiras-seveiras, estuques, lambrequins, jardins de toda flor e de toda cor. Manacá, jasmim, azaleia, buganvile, ipê, bico de papagaio, rosa, margarida, hortência, estrelícia, flamboyant, pata de vaca, quaresmeira, palmeira, costela de Adão. São João tem coisas assim...
Ó pro cê vê! (olha para você ver!)
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Texto e foto: Antonio Emilio da Costa
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