Uma mulher misteriosa, vestida de preto da cabeça aos pés, com a cabeça coberta por um véu preto, de luvas pretas, que aparece em São João del-Rei um único dia do ano, às 3 da tarde e à noite, canta 7 vezes, em locais muito disputados pela multidão, e desaparece por volta da meia-noite, à vista de todos, na escadaria da Matriz do Pilar. Não, não se trata de uma lenda urbana. Pelo contrário, trata-se de uma persona muito conhecida na cidade onde os sinos falam. Uma persona muito digna, admirada e respeitada; uma figura bíblica, que com seu canto faz parar o tempo e transporta os são-joanenses para uma temporalidade sagrada, definitiva e derradeira: o Enterro do Senhor Morto. Isto mesmo: a Verônica, que na Sexta-Feira da Paixão, há mais de 300 anos, pela fé, pelo canto e encanto faz instalar nas ruas e largos do centro histórico de São João del-Rei um outro tempo e um outro espaço. Não há são-joanense que a desconheça, assim como é certo que, durante toda a Quaresma, a maioria anseia po
São dezenas, os Cruzeiros da Penitência, ou da Paixão, espalhados pelo centro histórico de São João del-Rei e adjacências. Altos, de madeira, e com elementos que lembram a paixão de Cristo, eles são mais do que meros elementos típicos da arquitetura local. Tambem são mais do que marcos religiosos, pois têm significados, funções e finalidades que perpassam o senso coletivo e chegam ao âmago do universo subjetivo, com suas memórias, crenças, necessidades e tudo o que constitui a visão de mundo individual. Para muitos são-joanenses, os cruzeiros são marcos de fé. Existem para lembrar o sofrimento e a morte de Jesus Cristo, conclamando cotidianamente quem os vê a zelarem por uma vida correta, piedosa e abnegada, a exemplo do que foi a vida de Cristo. Para outros, eles têm poder. Tanto que se benzem fazendo o nome do pai, sempre que passam diante dele, pedindo proteção, não raro várias vezes por dia. Mais do que um símbolo, certamente estes imaginam nos cruzeiros algo da presença divina daq