Voltar a trinta, quarenta, cinquenta e tantos anos atrás. São João del-Rei está voltando no tempo. Isto mesmo, São João del-Rei está voltando no tempo, mas não que esteja andando para trás. Pelo contrário, a tricentenária cidade está se redescobrindo e redescobrindo suas riquezas. E lutando para recuperar o tempo que perdeu, durante as décadas em que foi adormecida. Adormecida, porém, mineiramente: um olho fechado pelo sono letárgico e o outro arregalado, vigiando a manutenção de seu patrimõnio material e imaterial, rico, diverso, genuíno e original. - Como assim? Tem jeito de andar pra frente voltando para trás? - Tem. A cidade está recuperando a vivacidade da movimentação positiva que tinha há coisa de meio século e que, como uma chama, foi se apagando pelo descuido, pelo abandono e, tristemente, até mesmo pelo desprezo ao que é uma das maiores fontes de desenvolvimento e renda, não só da atualidade como também dos tempos futuros: o turismo. O mundo gira, o tempo passa, a...
Acima de tudo e antes de qualquer coisa, a Festa de Passos faz parte da alma de São João del-Rei. Pelo esplendor das cerimônias, pela beleza das imagens, pelo mistério escondido sob os panos roxos, pelo perfume do incenso, manjericão e rosmaninho, pela música barroca e pela beleza delicada dos cinco passinhos e da capela da Piedade, a Festa de Passos nos encanta e nos comove desde a infância. Não há quem, pelo menos uma vez na vida, não ficou triste e se emocionou ao ver os andores velados descerem a escadaria do Pilar, ao som do Sino dos Passos e da Banda Theodoro de Faria, executando as marchas das Dores e dos Passos. Não há quem não se emocionou de infantil alegria ao ver, nas rasouras matinais do domingo, os andores enfeitados de hortências azuis e rosas, doces ao olhar como o cartucho de amêndoas, de amendoim, coco e açúcar, que os anjos ganham ao final da procissão. Isto, sim, é patrimônio: aquilo que nos f...