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São João del-Rei se sabe. São João del-Rei se guarda. São João del-Rei se vive. São João del-Rei se ama!

Passado o verão - e já quase findando o terceiro mês do ano -, é impossível não ver, dia após dia, que novos ventos estão soprando esperança sobre São João del-Rei. Que a autoestima cidadã está batendo mais forte no coração são-joanense, assim como rebrilha no olhar de nosso povo um lastro de orgulho e confiança, do que fomos, do que somos, e do que podemos ser. São João del-Rei, com grafia peculiar, escrita com iniciais maíusculas. Alegria viva foi a cor do nosso Carnaval neste 2025. Tranquilo, ordeiro, feliz, quase tão brejeiro e ingênuo como o dos tempos de antigamente. Um Carnaval de paz, em que entre um samba e uma marchinha, se ouvia a civilidade de expressões gentis, como "dá licença", "por favor", "obrigado". Até "Deus ajude", aqui e ali, se ouviu.  Acesa como as velas das tochas, lanternas e altares, a Quaresma este ano chegou para os são-joanenses com sagrado entusiasmo, no sentido religioso da palavra entusiasmo, que em grego significa...
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Em São João del-Rei quem tem padrinho não morre pagão!

  Pode até parecer exagero dizer isto, mas, na verdade, São João del-Rei é uma das cidades de mais intensa religiosidade do país. Guardadas as devidas proporções, não é equivoco dizer que nossa terra - cada qual com suas especificidades históricas, religiosas e culturais - se iguala a Salvador, Roma Negra, onde majoritariamente se respira e se transpira religiões de matriz africana. Pela questão identitária que molda nossa maneira de ser, os são-joanenses são modestos e discretos, quase acanhados, na demonstração de sua fé popular. Fora a opulência dos templos barrocos e a sofisticação das tradições e ritos tricentenários, que fazem nossos conterrâneos encher o peito de orgulho, a conversa que eles têm com os "santos de casa" é coisa íntima e, mesmo quando acontece em espaços públicos, é recatada, cifrada, em voz baixa, gestos rápidos e comedidos, quase silenciosa. Lembram daquela recomendação de Jesus Cristo quanto ao anonimato das orações e dos jejuns? Pois é... Nos situand...

São João del-Rei é mineira demais. Mais até do que Minas Gerais!

Cultura, em São João del-Rei, é coisa cotidiana. Longe de ser promoções, produções, programações,  e realizações construídas e concretizadas como evento, a cultura em São João del-Rei é uma vivência  constitutiva da cidade. Original, genuína, peculiar, exclusiva, tem a linguagem local, a cor local, o tom local, enfim, a alma local. São-joanense. Deste modo, não é algo que pode ser transplantado, repetido nem copiado por outros rincões, tão intrínseca e ontológica que ela é desta terra onde os sinos falam. Do mesmo modo, não pode ser substituída por alternativas importadas de outros lugares, nem por modelos "de sucesso", criados para locais que possuem outras histórias, outra personalidade, outras necessidades, outras características, outras propostas e outras realidades. Assim como entre os humanos é impossível modificar impressões digitais, no caso de cidades não se pode modificar, por deliberação, impressões culturais. A cultura, nas terras são-joanenses, é tão comum e c...

No canto da Verônica, a alma de São João del-Rei

Uma mulher misteriosa, vestida de preto da cabeça aos pés, com a cabeça coberta por um véu preto, de luvas pretas, que aparece em São João del-Rei um único dia do ano, às 3 da tarde  e à noite, canta 7 vezes, em locais muito disputados pela multidão, e desaparece por volta da meia-noite, à vista de todos, na escadaria da Matriz do Pilar. Não, não se trata de uma lenda urbana. Pelo contrário, trata-se de uma persona muito conhecida na cidade onde os sinos falam. Uma persona muito digna, admirada e respeitada; uma figura bíblica, que com seu canto faz parar o tempo e transporta os são-joanenses para uma temporalidade sagrada, definitiva e derradeira: o Enterro do Senhor Morto. Isto mesmo: a Verônica, que na Sexta-Feira da Paixão, há mais de 300 anos, pela fé, pelo canto e encanto faz instalar nas ruas e largos do centro histórico de São João del-Rei um outro tempo e um outro espaço. Não há são-joanense que a desconheça, assim como é certo que, durante toda a Quaresma, a maioria ansei...

A fé viva nos cruzeiros de São João del-Rei

São dezenas, os Cruzeiros da Penitência, ou da Paixão, espalhados pelo centro histórico de São João del-Rei e adjacências. Altos, de madeira, e com elementos que lembram a paixão de Cristo, eles são mais do que meros elementos típicos da arquitetura local. Tambem são mais do que marcos religiosos, pois têm significados, funções e finalidades que perpassam o senso coletivo e chegam ao âmago do universo subjetivo, com suas memórias, crenças, necessidades e tudo o que constitui a visão de mundo individual. Para muitos são-joanenses, os cruzeiros são marcos de fé. Existem para lembrar o sofrimento e a morte de Jesus Cristo, conclamando cotidianamente quem os vê a zelarem por uma vida correta, piedosa e abnegada, a exemplo do que foi a vida de Cristo. Para outros, eles têm poder. Tanto que se benzem fazendo o nome do pai, sempre que passam diante dele, pedindo proteção, não raro várias vezes por dia. Mais do que um símbolo, certamente estes imaginam nos cruzeiros algo da presença divina daq...

Cultura dinâmica: Saeta de sinos em São João del-Rei

Além da devoção ardorosa a Nossa Senhora do Pilar, padroeira do mundo hispânico e generosa madrinha de nossa cidade, existem muito mais afinidades entre São João del-Rei e a Espanha do que a gente imagina. E vemos que está a surgir aqui mais uma expressão de eloquente religiosidade, que tudo indica vai se consolidar e daqui a não muito tempo até será entendida como mais uma semelhança entre as procissões dos 'dois mundos'. Sem dúvida, uma das maiores afinidades entre a cultura de São João del-Rei e a das antigas cidades espanholas é a grandiosidade das celebrações da Paixão de Cristo, que, tanto aqui quanto lá, são igualmente monumentais. Enquanto em nossa terra as celebrações envolvem cerimônias que acontecem dentro e fora das igrejas, com missas, ofícios, vias sacras, visitações, adorações, encenações que fazem parte de um teatro sagrado, em Madri, Segóvia, Toledo, Sevilha, Málaga e outras cidades, o destaque são as magníficas procissões, com enormes andores, num vasto e rico...

São João del-Rei é assim. Ó pro cê vê!

  Nunca é demais repetir: São João del-Rei não uma cidade óbvia, que se mostra logo à primeira vista. Não. Lugar de encantos inconfidentes, a cidade vai desnudando sua beleza aos poucos, em silêncio, com mistério e sutileza. É assim que São João seduz, enamora e apaixona. Como pode? Às vezes, dobrando a esquina de um beco estreito, você distraidamente levanta os olhos atraído pelo celeste azul turqueza e, de repente, se depara com uma janela sonhadora, guarnecida por uma sacada de ferro retorcido em bordado e renda, de onde pendem franjas exuberantes de cipó São João. Folhas de esmeralda, flores de coral, fascínios de São João. Largo de São Francisco, Largo do Carmo, Largo das Mercês, Largo do Rosário, Rua Direita - territórios mágicos, coroados por igrejas soberanas. Meio a elas - o sol prateando as pedras, o perfume do incenso condensando aéreas nuvens branca -, anjos de todo tipo levitam, cantando hosanas uns aos outros. Sopram notas musicais, confidenciando entre si desejos e s...

São João del-Rei. A cidade, o povo, a cultura e suas cruzes!

  Sem exagero algum, dificilmente existe, no mundo, uma cidade com tanta cruz monumental por metro quadrado quanto o centro histórico de São João del-Rei e seu entorno. E olha que não estamos considerando os bairros que não fazem parte da área tombada pelos órgãos locais ou federais de patrimônio. Cruzeiros da Paixão ou da Penitência, completos com todos os estigmas, grande crucifixo com imagem de Cristo em tamanho natural, cruzes simples fincadas em pedras ou calçadas, cruzes de pedra ou de ferro encimando pontes, grande cruz em relevos na parede lateral da igreja matriz, cruzes de cantaria sobre as igrejas, capelas-passos e portões dos cemitérios, estes símbolos sagrados somam, no mínimo 45. Uma densidade muito considerável para um perímetro que certamente não totaliza 10 quilômetros quadrados - da capela do Bonfim à do Senhor do Monte, do começo do Tejuco ao início da Rua Capitão Vilarim. De tantas que são, nem todas estas cruzes são percebidas pelos são-joanenses. De tão entran...

Biblioteca Municipal Baptista Caetano. Jardim literocultural de São João del-Rei

Uma biblioteca é muito mais do que um acervo de livros. Pelo menos aqui em São João del-Rei, na Biblioteca Municipal Baptista Caetano de Almeida, é assim. Um espaço vivo e dinâmico de informação, conhecimento, educação, saber e cultura.  A Biblioteca Municipal são-joanense é um viçoso jardim das palavras e das ideias. Nele brotam férteis sementes literárias, florescem poemas, verdejam contos, amadurecem romances, adormecem cartas, despertam crônicas, discursos, entrevistas, orvalham poesias... Ventam notícias de todos os tempos.  E mais: além de ser um centro de convivência espontânea daqueles que ali vão cotidianamente realizar empréstimos, fazer consultas e leituras, estudar e outras atividades desta natureza, a Biblioteca funciona também como um espaço cultural significativo, pois promove eventos literários, saraus temáticos literomusicais e outras programações para públicos de todas as idades. No dia 9 deste mês, por exemplo, o jardim da Biblioteca foi cenário para o Sarau...

Todo dia é dia de cultura "legítima", genuína e viva de São João del-Rei.

  Em São João del-Rei, vida e cultura são uma coisa só. Formam tão absoluta unidade que é impossível saber onde começa uma e termina outra, já que são juntas que elas fazem o eterno e infinito percurso. A cultura de São João del-Rei brota por si mesma, floresce e renasce como e conforme as estações. Não é uma cultura de eventos e espetáculos, concebida, promovida, apoiada e realizada estrategicamente, com finalidades específicas.  Não. Pelo contrário, a cultura de nossa terra é orgânica, espontânea, genuína e constitutiva do éthos são-joanense. É a cultura do dia a dia, substanciosa como arroz com feijão, saborosa como couve com torresmo, simples como taioba com angu, mingau de fubá, canjiquinha, maneco-com-jaleco, abóbora madura, abobrinha batida...Festiva comida de antigos domingos: arroz branco com tutu enfeitado, lombo de porco e maionese. Doce, como arroz-doce, doce de leite, de figo, de mamão, de sidra ralada ou em calda, de laranja-da-terra, goiabada-cascão com queijo ...